100 Dias de Trump: Caos, Retrocessos e Ameaças à Democracia nos EUA

O presidente Donald Trump celebrou os 100 primeiros dias de seu segundo mandato com um comício em Michigan, enaltecendo supostas “vitórias económicas”. Contudo, especialistas alertam para um cenário preocupante: a possibilidade iminente de recessão. O economista João Pedro Ferreira, da Universidade da Virgínia, classifica o atual momento como um “experimento económico”, onde a confiança dos consumidores atinge níveis historicamente baixos. “As políticas parecem seguir o humor do presidente: mudam conforme o dia e a hora. O resultado é um ambiente cada vez mais caótico”, afirma.

Radicalização e retrocesso de direitos

De acordo com Ferreira, a administração atual representa um aprofundamento de comportamentos observados no primeiro mandato, mas com um nível mais agressivo. Ele afirma que Trump agora ultrapassa os limites tradicionais da função presidencial, colocando em risco direitos assegurados pela Constituição. “Estamos a assistir a um recuo acentuado em direitos sociais, sobretudo para minorias, comunidades trans e imigrantes. As políticas de diversidade e inclusão estão sob ataque”, avalia.

Vingança pessoal e justiça como alvo

Ferreira aponta ainda um comportamento revanchista por parte do presidente. “Ele escolhe os seus alvos com precisão: membros do sistema judicial, antigos funcionários de Estado, advogados e empresas que se opuseram a ele. Está claro que há uma agenda pessoal de retaliação em curso.”

Democratas desorganizados e oposição nas ruas

Quanto à oposição, o professor nota que o Partido Democrata está fragmentado. “Na base, a população organiza protestos locais. Mas no topo, falta liderança efetiva, com exceção da ala progressista liderada por Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez. Em muitos aspectos, o próprio partido é corresponsável pela ascensão de Trump.”

Desilusão e crise económica generalizada

A insatisfação com os democratas levou parte do eleitorado a escolher Trump novamente, mas há sinais de arrependimento. “Alguns esperavam que ele não fosse cumprir tantas promessas. Agora que está a cumpri-las, muitos sentem-se traídos”, afirma Ferreira. Ele descreve o cenário económico como desestruturado: tarifas comerciais incoerentes, reformas instáveis e ameaças à segurança social criam um ambiente de incerteza. “A recessão parece inevitável”, alerta.

Tensões com universidades e ciência sob ataque

Trump também tem enfrentado o mundo académico. Universidades que criticam sua política, sobretudo em relação ao antissemitismo, perderam financiamento federal. Ferreira observa resistência em instituições como Harvard e MIT, mas teme consequências mais amplas. “Há um clima de intimidação. Projetos científicos foram cancelados e a ciência perdeu espaço.”

Diplomacia de aparência e promessas não cumpridas

No campo internacional, Trump iniciou conversas com adversários históricos, como Rússia e Irão, e prometeu encerrar o conflito na Ucrânia em 24 horas — sem sucesso. Ferreira vê essa postura como “teatral” e orientada para a imagem. “Parece mais um programa de televisão do que diplomacia séria. O problema é que o mundo inteiro está a ser arrastado com ele.”

Ameaças estratégicas disfarçadas de excentricidade

Por fim, o professor adverte que nem tudo pode ser descartado como bravata. Propostas controversas, como anexar a Gronelândia ou transformar Gaza em um paraíso turístico, escondem objetivos estratégicos. “Mesmo que não realize tudo o que diz, Trump pavimenta o caminho para acordos vantajosos, especialmente no setor de terras raras. Há uma agenda por trás, alinhada com os interesses das grandes empresas tecnológicas.”

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