Moçambique mergulha há quase uma década num clima sombrio de medo e violência política, marcado por uma onda de assassinatos seletivos, desaparecimentos forçados e repressão estatal. Denominados popularmente como “esquadrões da morte”, grupos armados não identificados têm sido associados a ataques sistemáticos contra ativistas, opositores políticos, jornalistas e membros da sociedade civil. Apesar das denúncias crescentes, o Governo moçambicano insiste em negar a sua existência, enquanto a impunidade se torna norma.
Desde as eleições gerais de 2024, a situação deteriorou-se ainda mais. Protestos eclodiram em várias províncias após alegações de fraude eleitoral. No epicentro das tensões, dois assassinatos chocaram o país: Elvino Dias, advogado do partido PODEMOS, e Paulo Guambe, porta-voz do mesmo partido, foram brutalmente executados em Maputo por indivíduos não identificados. Ambos estavam envolvidos em ações judiciais para contestar os resultados eleitorais, o que levantou sérias suspeitas sobre motivações políticas por trás dos crimes.
Entidades como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch documentaram mais de 300 mortes e casos de repressão violenta no período pós-eleitoral, incluindo espancamentos, detenções arbitrárias e uso excessivo da força por parte da polícia. Em muitas dessas ocorrências, há fortes indícios de atuação coordenada de agentes armados fora do comando regular da polícia, reforçando os temores sobre a existência de esquadrões organizados para silenciar dissidentes.
Adriano Nuvunga, diretor do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD), é uma das vozes mais críticas do atual regime. Recentemente, ele condenou a redução das tarifas de portagem como uma “migalha populista” oferecida à população para abafar protestos legítimos. Nuvunga defende a extinção das empresas concessionárias TRAC e Revimo, que considera ilegais e instrumentos de corrupção usados pelas elites políticas para extorquir os cidadãos diariamente.
“Estamos a viver uma captura total do Estado por interesses obscuros. Estas portagens, tal como os esquadrões da morte, fazem parte de um mesmo sistema de opressão e exploração da população”, afirmou Nuvunga em entrevista à DW África.
Enquanto isso, o clima de medo cresce. Vários ativistas e jornalistas relatam perseguições constantes, escutas ilegais, e ameaças de morte. Muitos evitam falar publicamente ou já abandonaram o país. A maioria dos casos de homicídios permanece sem solução, sem investigações sérias ou detenções. A Procuradoria-Geral da República e o Ministério do Interior permanecem em silêncio ou minimizam os casos, gerando revolta e desconfiança na sociedade.
A comunidade internacional tem pressionado Maputo a garantir investigações independentes e proteger os direitos civis, mas as ações concretas ainda são escassas. Enquanto isso, a população vive acuada, numa constante vigilância e sem garantias de justiça.
Os “esquadrões da morte” são hoje símbolo da falência do Estado de Direito em Moçambique — uma ferida aberta que continua a sangrar, diante de um poder que prefere negar, silenciar e reprimir a enfrentar as suas próprias sombras.
Fontes principais:
Deutsche Welle (DW África)
Reportagem sobre os “esquadrões da morte” em Moçambique:
https://www.dw.com/pt-002/moçambique/esquadrões-da-morte-os-vários-casos-por-esclarecer/a-69064194
Entrevista com Adriano Nuvunga sobre as portagens e o papel das elites políticas:
https://p.dw.com/p/4txgr
Amnistia Internacional – Portugal
Denúncia de mais de 300 mortes pós-eleições em Moçambique:
https://www.amnistia.pt/mocambique-deve-investigar-mais-de-300-mortes-depois-das-eleicoes
Facebook – Notícias Independentes Moçambicanas
Publicações sobre repressão policial e presença de forças de intervenção:
https://www.facebook.com/100064160280033/posts/1083114530503880
Wikipédia – Eleições Gerais de 2024 em Moçambique (referência cruzada)
Contexto dos protestos pós-eleitorais e os assassinatos de membros do partido PODEMOS:
https://es.wikipedia.org/wiki/Elecciones_generales_de_Mozambique_de_2024