A mineradora britânica Gemfields, listada na bolsa de Londres, garantiu que as obras da sua segunda unidade de processamento de rubis, localizada na concessão da Montepuez Ruby Mining (MRM), em Cabo Delgado, deverão ser concluídas até o fim do primeiro semestre deste ano, apesar dos diversos obstáculos enfrentados ao longo do processo.
De acordo com o portal sul-africano Engineering News, a companhia explicou que a produção da MRM tem sido afetada por uma diminuição na disponibilidade de rubis brutos de qualidade superior, o que é atribuído às variações naturais das condições geológicas da região de extração.
“Cada gema é única. Mesmo com o apoio da geologia, ainda é impossível prever com exatidão a quantidade, o tipo e o valor das pedras antes de serem extraídas e processadas”, frisou a empresa.
Capacidade triplicada para melhorar eficiência
Para contornar o atual cenário de produção reduzida, a Gemfields aposta na finalização da nova planta, denominada PP2, que deverá multiplicar por três a capacidade de processamento, passando das atuais 200 toneladas por hora para 600 toneladas por hora.
“A concretização da PP2 está diretamente ligada à colaboração eficaz com a Consulmet Africa, cuja equipa tem sido incansável no esforço conjunto com a MRM para ultrapassar barreiras logísticas e operacionais”, destacou a empresa.
A nova estrutura permitirá à MRM lidar com o grande volume de minério acumulado, estimado em cerca de 1,48 milhões de toneladas. Além disso, possibilitará a separação de novos tamanhos e tonalidades de rubis, algo que antes era impraticável devido às limitações da infraestrutura anterior.
A Montepuez Ruby Mining explora um dos maiores depósitos de rubis do mundo, com uma área aproximada de 33.600 hectares, em pleno norte de Moçambique.
Insegurança e invasões ameaçam a exploração
Apesar dos avanços tecnológicos, a segurança na área continua a ser um desafio. A empresa reporta ataques intermitentes de insurgentes e uma crescente presença de garimpeiros ilegais, agravada após as eleições gerais de outubro de 2024.
No final de 2024 e início de 2025, registou-se um aumento considerável de grupos organizados de invasores, alguns dos quais chegaram a penetrar áreas ativas da mina, subir em equipamentos pesados e ameaçar trabalhadores.
“Essa situação representa um sério risco para os nossos ativos, colaboradores e até para os próprios invasores. Entretanto, uma operação coordenada por várias forças em abril contribuiu para a diminuição desses incidentes”, relatou a Gemfields.
A empresa reforçou que mantém ações educativas junto às comunidades locais, alertando sobre os riscos da mineração ilegal. Também ampliou a colaboração com autoridades governamentais e intensificou as medidas de segurança.
“Estamos em contacto com novos membros do governo para resolver a questão das invasões. A concessão é protegida por forças de defesa e segurança moçambicanas, por vigilantes contratados e por membros da comunidade treinados”, detalhou.
Além disso, os patrulhamentos seguem os Princípios Voluntários sobre Segurança e Direitos Humanos, com formação específica para todos os envolvidos, uso de drones, trocas regulares de informação com as autoridades e vigilância constante.
Mil milhões de dólares em rubis desde 2012
Desde o início das operações da MRM, em 2012, a exploração de rubis já gerou mais de mil milhões de dólares (aproximadamente 63,2 mil milhões de meticais), com destaque para o ano de 2023, no qual a receita atingiu 151,3 milhões de dólares (cerca de 9,5 mil milhões de meticais).
A Gemfields, além de controlar a MRM, detém 75% da mina de esmeraldas Kagem, na Zâmbia — considerada a maior do mundo — e ainda possui licenças de exploração na Etiópia para amostragens em grande escala, consolidando-se como referência global no setor de pedras preciosas coloridas.