Há decisões que não se explicam, apenas nos fazem pensar — ou melhor, falar. O Ministério da Justiça recusou o nome ANAMALALA para o novo partido político idealizado por Venâncio Mondlane, alegadamente por estar numa língua nacional. Mas, curiosamente, o partido AMUSI, também com nome proveniente de uma língua moçambicana — o macua — foi aprovado sem grandes barulhos. E aí surge a pergunta que não quer calar: qual é o critério?
ANAMALALA, para muitos, representa um grito popular. Uma palavra forte, com identidade local, cultural e política. Negar esse nome soa a mais do que uma simples decisão técnica — parece carregar uma mensagem silenciosa de desconforto com o que ele representa. Já AMUSI, que significa “família” em macua, não gerou embaraços. Por quê?
Será que o problema não está na língua, mas sim em quem propõe a palavra?
Talvez o incômodo não esteja no “ANAMALALA” em si, mas no que ele ecoa: mudança, fim de ciclos, ousadia. Para suavizar o ambiente, alguns já sugerem: por que não traduzir para o português? Que tal “ACABOU” como nome oficial? Mas, sejamos francos, o charme de ANAMALALA está justamente no seu sabor local, na sua força sonora e cultural.
Esse episódio mostra, mais uma vez, como às vezes criamos ruído onde deveria haver clareza. Fala-se muito em valorização das línguas nacionais, mas quando se quer usá-las de forma prática e simbólica, o sistema trava. A incoerência grita mais alto que o próprio nome do partido.
No fim das contas, talvez o melhor seja rir para não se enervar. Mas rir com consciência crítica. Porque se tem algo que realmente ANAMALALA, é a paciência do povo com decisões que parecem obedecer mais ao jogo político do que à lógica ou à justiça.
