O antigo Presidente da República de Moçambique, Joaquim Chissano, afirmou que a tensão social e política que se seguiu às eleições gerais de outubro de 2024 representa uma “crise de crescimento” para o país, refletindo os desafios naturais de uma democracia em amadurecimento. Em entrevista à agência Lusa, Chissano destacou que o aumento da participação cívica e a vocalização de diferentes grupos sociais indicam um progresso democrático, embora venham acompanhados de instabilidade.

“O país está a crescer, está a evoluir. O aumento da população, o acesso à informação e a consciência política provocam reações, por vezes tumultuosas, mas fazem parte do processo de maturação de uma sociedade”, disse o estadista moçambicano, que governou o país entre 1986 e 2005.

Surpreendido positivamente com o desempenho de Daniel Chapo, atual Presidente da República, Chissano afirmou que o jovem líder tem revelado qualidades políticas e de liderança acima das expectativas. “Estou agradavelmente surpreendido. Ele está a mostrar que tem capacidade, serenidade e vontade de dialogar, o que é essencial nesta fase do país”, declarou.

Após meses de tensão e protestos motivados por denúncias de fraude eleitoral, Daniel Chapo tomou a iniciativa de firmar um acordo político com todos os partidos representados na Assembleia da República, incluindo o RENAMO e o PODEMOS. O pacto, assinado a 5 de março de 2025, visa restaurar a estabilidade, garantir reformas estruturais e promover a reconciliação nacional.

O gesto de diálogo foi reforçado por um encontro entre Chapo e o líder da oposição, Venâncio Mondlane, que resultou em mais um aperto de mãos simbólico e a promessa de uma colaboração mais construtiva no parlamento. Joaquim Chissano enalteceu essa abertura como um marco importante e sinal de que a nova geração de líderes está disposta a colocar o país acima dos interesses partidários.

Para Chissano, a alternância de gerações é fundamental para o progresso de Moçambique: “É preciso deixar espaço para novas ideias e novas formas de pensar. Isso é natural e necessário. Daniel Chapo representa essa renovação.”

O ex-presidente concluiu com uma nota de otimismo: “Apesar dos desafios, Moçambique tem uma base sólida para continuar a crescer. Com diálogo, inclusão e respeito mútuo, podemos alcançar uma estabilidade duradoura.”