Governador afirma que Cabo Delgado caminha para estabilidade definitiva

Durante o lançamento da campanha de comercialização agrária de 2025, realizado esta semana em Metoro, no distrito de Ancuabe, o governador da província de Cabo Delgado, Valige Tauabo, afirmou que a região está gradualmente a alcançar um cenário de estabilidade duradoura, após quase oito anos de conflito com grupos armados.

“Hoje conseguimos vir até Ancuabe porque há um ambiente de paz crescente. Isso é fruto do trabalho das nossas Forças de Defesa e Segurança (FDS)”, destacou Tauabo, ao afirmar que a situação está a melhorar significativamente. O dirigente também apelou à população para apoiar os esforços de reintegração dos insurgentes que decidam entregar-se e colaborar com as autoridades.

O governador expressou confiança de que ainda este ano Cabo Delgado poderá atingir a chamada “estabilidade definitiva”, graças à ação coordenada das forças militares e à colaboração das comunidades locais. “Os que promovem a instabilidade são nossos filhos, sobrinhos, membros da nossa sociedade. Precisamos estar unidos neste processo”, reforçou.

Apesar do otimismo oficial, analistas alertam que os desafios persistem. O pesquisador moçambicano João Feijó, do Observatório do Meio Rural (OMR), afirmou recentemente que os grupos armados atuantes na região alteraram sua estratégia, evitando confrontos com forças mais bem preparadas, como as tropas ruandesas destacadas em Palma e Mocímboa da Praia, e focando em áreas onde a presença militar é mais frágil.

Feijó observa que os insurgentes estão agora mais ativos em zonas como Muedumbe e Meluco, com movimentações recentes também na vizinha província de Niassa, onde em abril foi registrado um ataque com a decapitação de dois guardas-florestais. Ele acrescenta que os rebeldes têm adaptado suas operações com o objetivo de gerar impacto internacional e desestabilizar projetos estratégicos, como o megaprojeto de gás natural da TotalEnergies em Afungi, cuja reativação está prevista para este ano.

Segundo dados do Centro de Estudos Estratégicos de África, pelo menos 349 pessoas perderam a vida em Cabo Delgado devido a ataques extremistas somente em 2024, representando um aumento de 36% em relação ao ano anterior.

Feijó também ressaltou a importância do apoio das tropas ruandesas, que têm desempenhado um papel decisivo na proteção das zonas estratégicas. A atuação dessas forças, segundo ele, inclui não apenas ações militares, mas também iniciativas de integração comunitária, emprego local e apoio direto à população.

Apesar dos avanços, o pesquisador destaca que os insurgentes continuam preparados para uma guerra prolongada, com forte motivação ideológica, ao contrário de muitos soldados moçambicanos, que enfrentam limitações de treinamento e apoio psicológico. Essa disparidade, segundo ele, representa um desafio adicional no combate ao extremismo na região.

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