Um ano após o trágico acidente que vitimou o vice-presidente do Malawi, Saulos Chilima, e mais oito pessoas, um relatório do Departamento Federal de Investigação de Acidentes Aeronáuticos da Alemanha (BFU) aponta falhas graves atribuídas diretamente à Força de Defesa do Malawi (MDF).
De acordo com as conclusões do BFU, o avião Dornier 228, operado pela MDF, não reunia condições para operar o voo que terminou em tragédia a 10 de Junho de 2024, quando a aeronave caiu na Floresta de Chikangawa. O aparelho regressava a Lilongwe após não conseguir aterrar em Mzuzu devido ao mau tempo.
Falta de manutenção e piloto inapto
O relatório detalha múltiplos problemas de manutenção que já haviam sido sinalizados anteriormente e permaneciam sem correção. Acrescenta ainda que o piloto ao comando do voo não estava em condições médicas nem psicológicas adequadas para pilotar, segundo avaliações internas da própria força aérea malawiana.
O BFU foi claro ao afirmar que a certificação de aeronavegabilidade do avião encontrava-se vencida, e que problemas técnicos vinham sendo registrados sistematicamente sem que medidas fossem tomadas.
Negligência reiterada pela MDF
O documento revela que tanto a aeronave quanto o comandante de bordo já haviam sido alvo de advertências anteriores, que foram ignoradas pela liderança militar. Apesar dos alertas, a aeronave continuava a ser utilizada para transportar altos funcionários do Estado.
“O acidente poderia ter sido evitado”, sublinha o relatório. “A persistência no uso de um avião deficiente e de um piloto inapto configura uma violação grave dos princípios de segurança aeronáutica.”
Clamor por justiça e responsabilização
As revelações geraram forte indignação dentro e fora do Malawi. Familiares das vítimas exigem justiça, enquanto organizações da sociedade civil e analistas pedem a responsabilização dos envolvidos, incluindo a exoneração da atual liderança da MDF.
O presidente Lazarus Chakwera enfrenta pressão crescente para promover reformas e permitir auditorias independentes nas operações da força aérea.
Um país em luto e em busca de respostas
A morte de Chilima, amplamente considerado uma figura de renovação política e possível candidato à presidência, representou uma perda irreparável para muitos malawianos. O incidente é visto agora como resultado de um sistema que falhou em prevenir o previsível.
“A responsabilidade não recai apenas sobre o avião ou o piloto”, disse um membro da Coligação Malawiana para a Reforma da Aviação. “É o sistema inteiro que permitiu que isso ocorresse.”
O Ministério dos Transportes da Alemanha também comentou o relatório, classificando-o como “um alerta preocupante sobre a importância do cumprimento rigoroso das normas internacionais de segurança aérea”.
Enquanto a nação continua a chorar a perda de um dos seus líderes mais proeminentes, uma pergunta ecoa com urgência: por que a Força de Defesa do Malawi insistiu em utilizar um avião e um piloto considerados impróprios para voar?