Há um silêncio que dói mais do que palavras duras: o silêncio das instituições. Mateus Domingos, um jovem das periferias de Luanda, protagonizou um dos atos mais comoventes e corajosos que o país já viu. Atirou-se, sem hesitar, a uma vala de escoamento de águas para salvar vidas humanas. A sua coragem correu o país, emocionou milhões, gerou admiração e foi amplamente partilhada nas redes sociais. Mas o Governo… segue calado.
Onde está o reconhecimento oficial? Onde está a medalha? Onde está a homenagem pública que já devia ter acontecido? Mateus não tem padrinhos políticos nem sobrenome influente — e talvez por isso esteja a ser ignorado. Mas isso não apaga o que ele fez. Porque, enquanto muitos filmavam ou fugiam, ele agiu. Arriscou a vida. Salvou outras.
Este jovem não pode ser apenas mais um nome esquecido. Ele merece mais do que palmas digitais e hashtags. Ele precisa de um gesto concreto, de um reconhecimento institucional que diga ao país: valorizamos os verdadeiros heróis.
Se até ao final deste dia o Estado continuar em silêncio, será a sociedade civil a erguer a voz. Organizaremos uma campanha solidária. Faremos uma cerimónia popular. Vamos celebrar a coragem e a humanidade de Mateus Domingos com o respeito e a honra que lhe são devidos.
Porque não podemos continuar a fabricar ídolos passageiros enquanto ignoramos quem realmente representa o melhor de nós. Mateus é esperança. É exemplo. É a lembrança viva de que ainda há bondade autêntica entre nós.
Este silêncio não pode apagar o seu brilho. Ou reconhecemos os nossos heróis agora — enquanto respiram — ou estaremos a perder lentamente a nossa própria humanidade.
