General Momade: o tempo da saída chegou

Dizem que, na política, é mais honroso sair de cabeça erguida do que ser expulso na marra. Contudo, alguns líderes se apegam ao poder com a mesma força que um homem numa fila por comida em meio a uma crise, recusando-se a aceitar que o barco está afundando. Este é o caso de Ossufo Momade, líder de um partido que já foi a voz da resistência armada, mas que hoje enfrenta uma resistência civil desmobilizada, porém firme, que ocupa a sede da RENAMO em Maputo com um único pedido: sua saída imediata.

Parece que Momade ainda não compreendeu que liderar é mais que usar uniforme em tempos de paz ou repetir discursos vazios em momentos críticos. Liderar é assumir responsabilidades, ouvir o povo que o apoia e saber quando é hora de deixar o cargo para o bem do coletivo. É inaceitável que ex-combatentes — homens e mulheres que carregam as marcas da guerra — estejam acampados diante da sede do partido, clamando por reconhecimento e dignidade. São pessoas que lutaram pela liberdade e que agora se sentem traídas por aqueles que deveriam honrar essa luta dentro das instituições democráticas.

A história da RENAMO é repleta de heróis, pessoas que se entregaram por uma causa, correta ou não, que hoje deveria ser respeitada. O que dói profundamente é ver esse legado sendo destruído por um líder que parece alheio ao momento. Momade, que ganhou fama ao abrir sozinho a frente de Nampula, optou pelo conforto dos gabinetes ao invés de ouvir a base. Ele ignorou suas promessas, assistiu à queda nas eleições com um discurso repetido e um semblante vazio. De 60 cadeiras parlamentares para apenas 28, um declínio alarmante.

Para agravar, a RENAMO perdeu a posição de maior partido da oposição para o Podemos, um grupo recente que, em pouco tempo, se tornou a esperança para muitos desiludidos. Porque política, acima de tudo, é esperança. E os antigos combatentes exigem mais que benefícios materiais: querem respeito, coerência e a preservação da memória histórica.

Mas Momade opta pelo silêncio, um silêncio que ecoa mais alto do que os tiros da guerra. Seus antigos companheiros dormem em tendas improvisadas, enfrentando dificuldades, enquanto ele permanece fechado, distante. Ignora a dívida moral que tem para com esses homens e mulheres.

Talvez pense que o tempo apagará a insatisfação, que as forças policiais dispersarão os manifestantes. Mas certos ferimentos só cicatrizam com humildade e coragem — com a renúncia. Continuar na liderança sem o apoio do partido é como vestir roupa inadequada para o ambiente — uma desconexão total com a realidade e uma falta de respeito para com os eleitores e com a memória de Dhlakama, que conquistou respeito mesmo entre adversários.

João Machava, líder do protesto, deixa claro: “Não sairemos daqui sem a saída dele.” Quando um ex-combatente fala assim, é um sinal que não pode ser ignorado. Eles aguardaram a paz, as promessas e um futuro melhor. Agora, esperam o fim da liderança que tornou a RENAMO um projeto pessoal, incapaz de unir seus membros ou reconquistar o eleitorado.

É importante destacar que esses manifestantes não estão armados, são civis desmobilizados que apostam na via pacífica — mas a paciência tem limites. E seria trágico que essa manifestação evoluísse para um conflito por causa de teimosia. A RENAMO não pode ser refém de caprichos individuais.

A verdade é dura: Momade falhou na liderança, na escuta, nas eleições e na gestão do partido. Falhou também ao optar pelo silêncio, um silêncio que denuncia sua incompetência.

Ainda assim, há tempo para um gesto nobre. Momade pode sair com dignidade, transferir o comando e permitir um congresso livre e plural, onde os militantes decidam o futuro da RENAMO. O partido precisa renascer, com líderes próximos da base, comprometidos com causas maiores que a oposição à FRELIMO — comprometidos com o futuro de Moçambique.

Infelizmente, aqui em Moçambique, líderes agarram-se ao poder como crianças a um doce, mesmo quando está estragado no chão. Preferem sair expulsos a reconhecerem o momento.

Se Momade tivesse sensatez política, saberia que um líder se mede pela forma como enfrenta a queda. Saberia que o silêncio das bases é um pedido desesperado por mudança. Mas parece optar pela surdez, que só termina quando não restar mais nada para liderar.

É triste ver a RENAMO assim, uma casa partida pelos próprios filhos, não por maldade, mas por desespero. Uma sede tomada não por inimigos, mas por aqueles que deveriam ser aliados. Um partido que foi símbolo de resistência hoje resiste a si mesmo. E sua história está sendo apagada por quem deveria defendê-la.

Fica a pergunta: até quando Momade vai ignorar esse clamor? Quantos dias mais os ex-combatentes permanecerão na luta? Quantos militantes abandonarão o partido? Até onde vai esse desgaste?

Se ainda houver lucidez, dignidade ou honra, Momade deve renunciar — não por medo ou pressão, mas por amor à RENAMO, pelo respeito à sua história, e pela memória de todos que lutaram. Porque, como dizia um veterano, “a pátria se constrói com ações, não com palavras.” E agora, o maior ato de amor à RENAMO é este: general Momade, arrume as botas e saia.

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