muitas vezes se reduz a críticas justificadas contra a má gestão, a corrupção e a inação dos governantes. No entanto, também existem momentos em que o jornalismo deve reconhecer e elogiar quando algo está a ser feito corretamente. Sem bajulação ou alinhamento político, apenas com a coragem de reconhecer o mérito.
É o caso da cidade de Nampula, que desde fevereiro de 2024 tem experimentado uma nova forma de gestão sob o comando de Luís Giquira. Assumindo a liderança da terceira maior cidade do país, Giquira encontrou um município marcado por problemas antigos — lixo acumulado, estradas danificadas, transporte público insuficiente e mercados em más condições. Em vez de justificar a situação, ele rapidamente colocou mãos à obra.
Apesar de não ser o candidato favorito nas eleições municipais de 2023, superou concorrentes mais conhecidos e assumiu a responsabilidade de governar uma cidade ferida, especialmente após a morte de Mahamudo Amurane. Giquira trouxe um estilo prático e focado em resultados, inspirado na sua experiência como empresário no setor industrial, distanciando-se da burocracia típica da administração pública.
Pouco depois de tomar posse, em 19 de fevereiro de 2024, formou a sua equipa e destacou a importância do comprometimento e da urgência para resolver os problemas da cidade. E não foram apenas palavras: ações concretas começaram rapidamente.
Um dos primeiros desafios foi enfrentar o problema do lixo, uma questão que afligia Nampula há anos. Em menos de uma semana após assumir o cargo, iniciou a limpeza do mercado de Waresta, numa ação que contou com o apoio do setor empresarial local. O impacto foi imediato e simbólico: uma nova liderança que se importa com a dignidade da cidade. Em seguida, foram adquiridos três caminhões modernos para a recolha de resíduos, melhorando significativamente o sistema de saneamento.
Outro avanço importante foi a retomada da divulgação diária das receitas municipais — uma prática que reforça a transparência, fortalece a confiança dos cidadãos e dificulta a corrupção. Essa iniciativa revive o legado de Amurane, conhecido pela gestão austera e transparente, e mostra a determinação de Giquira em manter esse padrão.
Quanto às estradas, um dos maiores problemas apontados pela população, o novo edil não hesitou mesmo em época de chuvas. Aplicou saibro em pontos críticos para melhorar o tráfego e, assim que as condições climáticas permitiram, lançou a reabilitação da estrada de Marrere — fundamental para o acesso a instituições importantes da cidade. A construção da Avenida Samora Machel, outro projeto estruturante, foi concluída com sucesso, e bairros antes esquecidos, como Muahivire, começaram a ser requalificados.
Um símbolo do avanço na organização urbana foi a instalação dos primeiros semáforos funcionais nas principais avenidas, representando um salto na civilidade do trânsito local. Com mais de 800 mil habitantes, Nampula também viu melhorias no transporte público, com a recuperação de autocarros antigos e a introdução de novos veículos, o que tem aliviado a sobrecarga do sistema informal.
Na área econômica, destaca-se o lançamento do mercado do peixe Belenenses, um projeto financiado com um milhão de dólares que vai modernizar a conservação do pescado e valorizar os vendedores informais, proporcionando-lhes melhores condições de trabalho.
Em contraste com muitos líderes que se isolam, Giquira tem adotado uma postura aberta, lançando recentemente a plataforma digital “visitnampula”, para promover as potencialidades da cidade.
Embora o município tenha sido entregue com poucos recursos, forçando a tomada de um empréstimo para cobrir despesas emergenciais, essa decisão demonstra coragem e compromisso para enfrentar os desafios, mesmo diante da escassez financeira.
Ainda há muitos problemas a resolver: bairros periféricos continuam marginalizados, a criminalidade preocupa, e o comércio informal ainda domina as ruas. Contudo, o que diferencia esta gestão é a disposição para enfrentar as dificuldades e entregar resultados tangíveis.
Este editorial não isenta Luís Giquira de críticas, que serão feitas quando necessário. Mas hoje, este jornal reconhece o esforço de um governo que está a devolver a Nampula o brilho perdido. Uma cidade com mais de 800 mil habitantes distribuídos em 18 bairros e seis postos administrativos merece viver com dignidade, em ruas limpas, com mercados organizados e lideranças responsáveis. Giquira pode não ter feito milagres, mas tem cumprido aquilo que muitos prometem e não realizam — e isso, por si só, é motivo para reconhecimento. A cidade agradece.
