Jovens e Ativistas Rejeitam Declarações de Nyusi Sobre Reconciliação Nacional

A última declaração do Presidente Filipe Nyusi, durante o seu informe anual, em que afirmou que deixou Moçambique reconciliado, foi fortemente contestada pela juventude e organizações da sociedade civil. Durante uma “Auscultação pública sobre o Estado Geral da Nação”, promovida pela Plataforma DECIDE, o Observatório das Mulheres e o Parlamento Juvenil, foi evidente que a maioria dos participantes não concorda com a visão de reconciliação apresentada por Nyusi.

O evento teve como objetivo reunir as percepções de cidadãos, especialmente mulheres, jovens e pessoas com deficiência, para a criação de um parecer técnico sobre a situação atual do país, os desafios enfrentados e as recomendações para a melhoria. A violência policial durante manifestações, os atentados em Cabo Delgado e os feminicídios foram apontados como evidências de que a reconciliação está longe de ser uma realidade.

No encerramento do seu mandato, Nyusi expressou que sai da presidência com a sensação de “dever cumprido”, alegando que entregava um país totalmente reconciliado. Contudo, para muitos, a afirmação não reflete a realidade vivida no país.

Wilker Dias, ativista social e diretor executivo da Plataforma DECIDE, afirmou que os desafios continuam sendo grandes, especialmente em áreas como saúde, educação e segurança. Ele também ressaltou que a paz ainda é uma ilusão para muitos moçambicanos.

Quitéria Guirengane, da Secretaria Executiva do Observatório das Mulheres, descreveu a atual situação do país como marcada pelo “medo e insegurança”, enquanto o ativista social Nádio Taimo questionou a veracidade das declarações de Nyusi sobre a reconciliação. Taimo argumentou que as recentes declarações de Daniel Chapo, sugerindo violência para reprimir manifestações, contrariam qualquer discurso de reconciliação.

Inocêncio Manhique, jovem que perdeu um olho durante as manifestações em homenagem ao músico Azagaia, afirmou que o país não está reconciliado, criticando a repressão governamental contra ideias divergentes. Ele sugeriu que, enquanto não houver respeito pelas diferentes opiniões, a reconciliação será impossível.

Alberto Guambe, outro ativista social, também criticou a alegação de reconciliação, lembrando que o uso de força policial para dispersar manifestantes pacíficos é incompatível com a ideia de paz. Ele concluiu que Moçambique ainda está dividido e precisa repensar o caminho para alcançar uma verdadeira reconciliação.

As declarações e os relatos dos participantes destacam um cenário de desilusão e resistência, colocando em xeque a alegada reconciliação anunciada por Nyusi, e chamando atenção para a necessidade urgente de mudanças profundas na gestão do país.

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