Por décadas, a ideia de ligar fisicamente a Europa ao continente africano tem instigado engenheiros, políticos e visionários. A travessia entre Espanha e Marrocos, sobre o Estreito de Gibraltar, foi inicialmente idealizada como uma ponte monumental que uniria Tarifa (Espanha) a Tânger (Marrocos). No entanto, a realidade geológica, econômica e técnica empurrou esse projeto para o campo dos sonhos, e hoje o foco se voltou para um ambicioso túnel submarino.

O projeto do Túnel do Estreito de Gibraltar, que parecia ter sido esquecido, ressurgiu em 2023 após uma reunião de alto nível entre os governos espanhol e marroquino. Segundo os planos mais recentes, a ligação seria feita por um túnel ferroviário com cerca de 42 km de extensão – 27,7 km dos quais submersos – conectando Punta Paloma (Espanha) a Punta Malabata (Marrocos), a profundidades que podem chegar a 300 metros.

O plano inclui um sistema de transporte de passageiros e mercadorias, integrando as redes ferroviárias de alta velocidade dos dois continentes. A construção enfrentaria obstáculos como intensa atividade sísmica na região e correntes marítimas perigosas. Estimativas apontam que o custo do megaprojeto pode ultrapassar os 15 bilhões de euros, com previsão de conclusão entre 2035 e 2040 — se houver financiamento estável e consenso político.

Apesar do entusiasmo renovado, críticos alertam para diversos desafios. Especialistas questionam a viabilidade econômica da obra e os impactos ambientais que uma construção dessa magnitude pode causar. Além disso, a ironia geopolítica é evidente: enquanto se fala em união física entre os continentes, políticas migratórias cada vez mais restritivas dificultam o trânsito de pessoas entre Europa e África.

Hoje, o projeto continua envolto em mistério e contradição. A “ponte que nunca existiu” permanece como símbolo de uma ambição global, mas ainda distante da realidade concreta. Até o momento, não passa de uma promessa futurista — com mais perguntas do que respostas sobre se um dia deixará o papel.