O ex-Presidente da República, Filipe Nyusi, recusou-se recentemente a responder perguntas sobre alegações de que o seu governo teria omitido pagamentos às tropas do Ruanda, destacadas desde 2021 para combater o terrorismo em Cabo Delgado, norte de Moçambique.
A questão foi trazida à tona por uma investigação do jornal francês Africa Intelligence, publicada a 26 de maio, que acusa o governo moçambicano de não informar nem envolver o Parlamento nos acordos que levaram à entrada das forças ruandesas no país. Segundo a publicação, além da ausência de fiscalização legislativa, há dúvidas sobre os termos e a existência de eventuais pagamentos financeiros não divulgados entre Moçambique e Ruanda.
Durante uma cerimónia pública recente, Nyusi chegou a demonstrar disposição para interagir com os jornalistas, mas quando confrontado com questões sobre este tema sensível, virou as costas e se afastou, ignorando os pedidos de esclarecimento da imprensa.
O tema provocou reações. O sociólogo e comentador da MBC TV, Elisio Macamo, criticou publicamente a falta de transparência do governo no seu espaço de opinião no sábado, realçando que o caso mina a confiança nas instituições públicas e reforça preocupações sobre a governança em temas de soberania nacional e segurança.
Apesar das novas suspeitas, Filipe Nyusi já havia afirmado em declarações anteriores que “nenhum país exigiu compensação pela ajuda militar”, sugerindo que a solidariedade africana motivou o apoio. “Há acordos que não podem ser revelados por questões de segurança”, acrescentou na época, justificando o caráter reservado da cooperação militar com o Ruanda (DW, Sapo Moçambique).
Ainda assim, analistas políticos alertam para os riscos da dependência de forças estrangeiras e para o impacto disso na autonomia nacional. “A falta de aprovação parlamentar levanta dúvidas legítimas sobre a legalidade dos acordos”, comenta um analista ouvido pela Voz da América, destacando ainda o crescimento da influência económica de empresas ruandesas em solo moçambicano.
Até agora, o governo não forneceu qualquer resposta formal às revelações da imprensa estrangeira, nem esclareceu os mecanismos de financiamento da operação conjunta em Cabo Delgado.
