Novinte volta à RENAMO, mas exige purga na liderança

Raúl Novinte, antigo edil de Nacala e figura destacada da RENAMO, está de volta ao partido depois de um ano afastado. Apesar do regresso, o político admite enfrentar dificuldades para unir a militância, enquanto crescem as vozes que exigem mudanças profundas na liderança, nomeadamente a saída de Ossufo Momade.

Novinte afastou-se da RENAMO em abril do ano passado, após ter sido impedido de participar no congresso partidário realizado na província da Zambézia. Na altura, apoiava a candidatura interna de Venâncio Mondlane. Durante esse período, esteve brevemente associado à Coligação Aliança Democrática (CAD), tendo abandonado a cena política após a eliminação dessa coligação do processo eleitoral. Mondlane acabou por se juntar ao PODEMOS.

Apesar do interregno, Novinte afirma nunca ter deixado a RENAMO verdadeiramente. “Sempre me considerei membro. Nunca me filiei em outra formação política”, disse.

Agora de regresso, foi incumbido de ajudar a resolver as tensões internas do partido, missão que lhe terá sido confiada por Ossufo Momade. No entanto, o cenário é complexo: ao reunir-se com membros da RENAMO em Nacala, Novinte deparou-se com um posicionamento unânime pela saída de Momade da liderança. “Expliquei que essas decisões devem ser tomadas de forma coletiva, com todos presentes”, contou.

Momade poderá ceder?

Embora ainda não tenha comunicado diretamente a exigência dos membros a Ossufo Momade, Novinte acredita que o líder está ciente da pressão e pode estar disposto a abandonar o cargo. “Ele chegou a marcar um Conselho Nacional, que depois foi cancelado. Isso mostra que está a ponderar colocar o cargo à disposição”, revelou.

Para Novinte, a RENAMO continua a ser a segunda força política mais bem estruturada no país, e bastaria uma renovação da liderança para recuperar rapidamente relevância. Ele defende uma reorganização que valorize os quadros do partido e aponta nomes como Manuel Bissopo, André Magibiri, Manuel de Araújo, Elias Dhlakama, Alfredo Magumisse e Ivone Soares como possíveis alternativas para a liderança.

Análise: Novinte não tem força suficiente para resolver a crise

Segundo o académico Wilson Nicaquela, diretor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Lúrio, os desafios da RENAMO vão além da influência de Novinte. Para o analista, o retorno do político a Nacala é comum, considerando a cultura política local onde é frequente o afastamento temporário de figuras partidárias, seguido de um eventual retorno.

Nicaquela alerta ainda que, se Momade permanecer à frente do partido, a RENAMO continuará enfraquecida e irrelevante no atual contexto político nacional. “O partido precisa reconhecer que Momade já não corresponde às exigências da nova fase política de Moçambique”, frisou.

Ele acredita que os resultados eleitorais da RENAMO têm sido fruto de acordos e alianças pontuais, e adverte: “Sem renovação, a RENAMO poderá não conseguir nem 20 assentos na próxima legislatura.”

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