A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, atravessa uma fase crítica com o aumento de ataques insurgentes, eventos climáticos extremos e instabilidade sociopolítica. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o cenário atual configura uma “tripla crise” que está a colocar em risco milhares de deslocados internos.
Isadora Zoni, porta-voz do ACNUR em Cabo Delgado, alertou em entrevista que a situação está a agravar-se com ataques em zonas antes consideradas seguras, como Ancuabe e Montepuez, onde mais de 20 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas nas últimas semanas. Até mesmo Niassa já regista novos movimentos de deslocamento.
Zoni destaca que os deslocados enfrentam vulnerabilidades severas, como perda de documentos civis, separação familiar e riscos de violência baseada em género. “A documentação é essencial para acesso à saúde, educação e liberdade de circulação. Sem ela, muitos direitos são negados”, enfatizou.
Além da violência armada, a região foi recentemente abalada por três ciclones consecutivos, que destruíram o pouco que muitas famílias haviam reconstruído. Com isso, a insegurança alimentar agrava-se: os preços dos alimentos aumentaram, e a capacidade de resposta humanitária está limitada.
O financiamento para lidar com a situação também é escasso. Segundo o ACNUR, apenas 32% do valor necessário foi arrecadado para responder às necessidades identificadas. No total, a resposta humanitária visa alcançar 5,2 milhões de pessoas, mas menos de 15% dos recursos foram garantidos até agora.
Zoni descreve o cenário como uma crise silenciosa, mas com impactos devastadores e de longo prazo para as comunidades afetadas. O ACNUR segue a trabalhar com o Governo moçambicano e parceiros humanitários, mas reforça o apelo por mais apoio internacional urgente.
