Em setembro de 1978, após a morte repentina do Papa João Paulo I, o conclave do Vaticano se reuniu para eleger um novo pontífice. Entre os cardeais mais votados estava o brasileiro Dom Aloísio Lorscheider, então arcebispo de Fortaleza e um nome de grande respeito dentro da Igreja Católica. Conhecido por sua atuação firme em defesa dos direitos humanos e sua identificação com a Teologia da Libertação, Lorscheider obteve votos suficientes para ser eleito Papa. No entanto, surpreendentemente, recusou a possibilidade de assumir o cargo.
O motivo da recusa foi sua frágil condição de saúde à época. Ele havia passado por uma cirurgia cardíaca delicada, com a implantação de oito pontes de safena. Temendo que um novo papado de curta duração — como havia sido o de João Paulo I, que durou apenas 33 dias — causasse ainda mais instabilidade na Igreja, Dom Aloísio retirou-se da disputa.
Apesar de não ter aceitado o papado, Dom Aloísio desempenhou um papel fundamental na escolha do sucessor. Com sua articulação, apoiou a candidatura de Karol Wojtyła, o cardeal polonês que viria a se tornar João Paulo II — um dos pontífices mais influentes do século XX.
Lorscheider foi uma das vozes mais proeminentes da Igreja na América Latina durante as décadas de 1970 e 1980. Presidiu a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) de 1971 a 1979 e o Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) de 1976 a 1979. Sua atuação corajosa diante da ditadura militar brasileira e sua defesa da justiça social marcaram sua trajetória. Ele também foi um dos primeiros defensores da renovação da Igreja proposta pelo Concílio Vaticano II, sendo presença ativa nas discussões teológicas de seu tempo.
Dom Aloísio Lorscheider faleceu em 23 de dezembro de 2007, aos 83 anos, no Rio Grande do Sul. Seu legado permanece vivo como símbolo de humildade, firmeza e fidelidade aos ideais evangélicos de justiça e compaixão.
