Corte de Apoio dos EUA Agrava Desafios na Gestão Menstrual em Moçambique

Milhares de mulheres recorrem a alternativas precárias para lidar com a menstruação

A dignidade menstrual voltou a ser pauta de discussão nacional, desta vez impulsionada por um workshop promovido pela Associação Moçambicana para o Desenvolvimento da Família (AMODEFA), sob o tema “Mulheres de Impacto pelo Empoderamento, Dignidade Menstrual e Saúde Sexual e Reprodutiva.”

Durante o evento, o diretor executivo da AMODEFA, Santos Simione, alertou para os impactos negativos causados pelo corte de financiamento por parte do governo dos Estados Unidos. Segundo Simione, essa interrupção no apoio tem agravado a situação de muitas mulheres, levando-as a utilizar métodos impróprios e insalubres para lidar com o ciclo menstrual, o que compromete diretamente sua saúde e dignidade.

Estudos citados pela organização apontam que, em Moçambique, uma em cada dez mulheres não tem acesso a produtos básicos de higiene menstrual. Essa realidade, segundo a AMODEFA, é alarmante e reflete a urgência de investimentos sustentáveis nesta área.

A atuação da AMODEFA se estende também a regiões mais afetadas por crises humanitárias, como Cabo Delgado, onde milhares de mulheres enfrentam deslocamentos forçados e vivem em condições precárias. Nesses contextos, a organização tem fornecido apoio direto com foco na saúde e dignidade feminina.

No entanto, o financiamento limitado tem sido uma barreira constante. Com um orçamento anual entre três a quatro milhões de meticais, a AMODEFA vem enfrentando dificuldades desde que perdeu o apoio dos EUA há cerca de uma década — um corte que ocorreu após mudanças políticas naquele país. “Muitas organizações da sociedade civil já encerraram as suas atividades. No nosso caso, seguimos com os nossos princípios, o que custou o apoio financeiro”, explicou Simione.

Esperança Matsimbe, presidente do Conselho Diretivo da AMODEFA, chamou atenção para os desafios enfrentados por raparigas em ambiente escolar: “Falta água, kits de higiene e até abertura para discutir saúde menstrual. Isso afeta diretamente a frequência escolar e o bem-estar das alunas.”

Como resposta a essa realidade, será implementado um novo projecto piloto em cinco escolas da cidade de Maputo, incluindo a Escola Secundária Armando Guebuza. A iniciativa beneficiará cerca de três mil raparigas, proporcionando acesso a kits de higiene, espaços adequados e informação segura sobre saúde menstrual.

Presente no evento, a Ministra do Género, Criança e Acção Social, Ivete Alane, reforçou que promover o empoderamento feminino é essencial para o progresso do país. Ela destacou a necessidade de garantir condições dignas para as mulheres e encorajou as participantes do encontro a serem agentes de mudança em suas comunidades.

O workshop também servirá de base para a revisão do Plano Nacional de Prevenção e Combate à Violência Baseada no Género, reunindo representantes do governo, sociedade civil e líderes comunitárias em prol de soluções integradas.

Mais do autor

Forquilha sobre desentendimento com Mondlane: “Não falamos mais desde o fim do acordo”

Ministério Público proíbe conteúdos adultos em eventos infantis

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *