Em uma entrevista reveladora à jornalista Olívia Massango, o ex-presidente do Conselho Constitucional de Moçambique, Luís António Mondlane Gamito, fez declarações fortes sobre o estado da democracia no país. Com um tom confessional, Gamito admitiu que as eleições em Moçambique não são livres, justas nem transparentes, revelando práticas que, segundo ele, comprometem gravemente a integridade do processo eleitoral.
O antigo magistrado foi direto ao criticar a atuação da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e do Conselho Constitucional, instituições que, na sua visão, vêm falhando em garantir a expressão legítima da vontade popular.
“A democracia é alternância de poder. É preciso respeitar a vontade da maioria”, declarou Gamito, sugerindo que o atual sistema eleitoral favorece a manutenção de um partido no poder, mesmo sem respaldo claro das urnas.
Durante a conversa, o ex-dirigente também falou sobre a falta de inclusão e a concentração de privilégios nas mãos de uma elite, dizendo que alguns tratam Moçambique como se fosse propriedade pessoal, quando o país pertence a todos os moçambicanos.
Gamito foi além ao abordar a recente perseguição judicial contra membros da oposição, em especial o político Venâncio Mondlane (VM7). Ele destacou que o verdadeiro foco das autoridades devia ser quem frauda as eleições e mal governa, e não aqueles que expõem os problemas.
“A Procuradoria devia assistir à entrevista e repensar suas prioridades. Perseguir quem denuncia irregularidades é um erro grave”, enfatizou.
O ex-presidente do Conselho Constitucional também criticou o distanciamento de parte da academia, que, segundo ele, foca apenas nos efeitos das manifestações, sem se debruçar sobre suas causas estruturais. Para ele, a FRELIMO deve aceitar a alternância no poder, pois, de acordo com suas palavras, “já não está sendo eleita de fato”.
A entrevista gerou forte repercussão pública e reacendeu o debate sobre reformas profundas no sistema eleitoral e no funcionamento da justiça moçambicana.