A RENAMO, que já foi a principal força da oposição em Moçambique, enfrenta uma fase de profunda turbulência. O partido recusa reconhecer publicamente o seu declínio, atribuindo os problemas internos às crises políticas globais. Ao mesmo tempo, o aguardado Conselho Nacional – considerado por muitos como o fórum apropriado para tratar os conflitos internos – continua sem data marcada.
Recentemente, ex-guerrilheiros da RENAMO cercaram a sede do partido, em Maputo, exigindo a renúncia do presidente Ossufo Momade. Além disso, surgiram ameaças de que a residência do líder também poderia ser alvo de manifestações.
No meio da tensão, um comunicado surgiu numa página do Facebook associada à RENAMO, apontando nomes de supostos responsáveis por uma tentativa de desestabilização interna. Entre eles estão Muchanga, Magumisse, Muchacuare e, principalmente, Elias Dhlakama, irmão do falecido líder Afonso Dhlakama. No entanto, o texto foi rapidamente retirado da página, e a RENAMO negou sua autoria.
Liderança refuta rumores de doença
Em entrevista à DW, o porta-voz do partido, Marcial Macome, desmentiu alegações sobre a saúde debilitada de Ossufo Momade. Ele afirmou que o presidente esteve reunido com membros da comissão política até altas horas da madrugada na última quinta-feira (15.05).
Macome disse que a saúde do presidente é uma questão privada e que, institucionalmente, o partido não vai comentar sobre o assunto, a menos que se torne uma questão interna oficial. Se isso acontecer, os órgãos da RENAMO serão convocados para decidir sobre o tema.
Crise sob a ótica da “democracia em transformação”
Questionado sobre as manifestações dos ex-combatentes, Macome rejeitou a ideia de colapso no seio da RENAMO. Para ele, os desafios enfrentados refletem uma crise global da democracia. Ele comparou a situação com os episódios nos Estados Unidos, como a invasão ao Capitólio, e afirmou que democracias ao redor do mundo precisam se reinventar – incluindo a própria RENAMO.
O futuro de Momade em debate
Sobre os apelos internos para que Ossufo Momade deixe a presidência, Macome explicou que essa decisão só pode ser tomada pelos órgãos do partido. Ele defendeu que a liderança deve ser analisada em conjunto com o desempenho de seus colaboradores e criticou a adoção de posições radicais em contextos democráticos.
Adiado, mas não cancelado
O Conselho Nacional da RENAMO, que muitos acreditam ser o espaço ideal para solucionar a crise, continua sem data marcada. Segundo Macome, o partido está a trabalhar nos preparativos e a comissão política se reunirá em breve para anunciar a data e o local do encontro.
Enquanto isso, os sinais de instabilidade interna continuam a se acumular, exigindo respostas rápidas e estruturadas para evitar um possível colapso institucional do histórico partido moçambicano.