Corrupção dentro do hospital: “Paguei 15 mil e a operação nunca aconteceu”

Nampula – Pacientes internados no Hospital Central de Nampula (HCN), a maior unidade de saúde da zona norte de Moçambique, expressam crescente inquietação diante da escassez de medicamentos naquele estabelecimento. Algumas vozes apontam que certos profissionais de saúde estarão a desviar fármacos para vendê-los ilegalmente aos próprios doentes.

De acordo com relatos colhidos no local, a prática não é recente e tem dificultado o acesso ao tratamento médico adequado. Há utentes que, diante da falta de opções, acabam por ceder a pagamentos informais para garantir assistência, ou optam por procurar outras unidades hospitalares.

Uma das entrevistadas, mãe de uma criança doente, contou que após exames no HCN, inicialmente descartando malária, o estado de saúde do filho agravou-se. Num segundo atendimento, confirmou-se a presença da doença. Segundo ela, o médico recomendou iniciar o tratamento, mas informou que o medicamento necessário não estava disponível no hospital.

“Pedi a receita para comprar fora, mas fui informada que um enfermeiro tinha as ampolas e que cada uma custava 500 meticais. Como o tratamento exigia doses diárias, tive de pagar também 1.000 meticais pelo serviço de administração dos medicamentos”, contou.

Ainda segundo a utente, foi-lhe dito que o hospital só disponibiliza certos medicamentos a pacientes internados, e que não seria possível encontrá-los em farmácias privadas. “O meu marido teve de pagar pela medicação. E quem não tem meios? É muito revoltante.”

Outros pacientes relataram situações semelhantes, mas preferiram o anonimato por medo de represálias. Uma mulher denunciou que a irmã, internada no HCN, teria sido coagida a pagar 15 mil meticais para ser operada. Após o pagamento, segundo o seu testemunho, os profissionais não realizaram o procedimento, o que acabou por resultar na morte da paciente.

As nossas fontes indicam que há evidências das transações, incluindo comprovativos de transferência e conversas por mensagens, mas recusaram-se a divulgar os dados publicamente por receio de retaliações. Pedem, no entanto, que as cobranças ilegais cessem imediatamente para proteger os doentes mais vulneráveis.

A delegada provincial da Ordem dos Enfermeiros em Nampula, Nucha Fonseca, reconheceu que há múltiplos desafios no setor, mencionando a falta de condições de trabalho e materiais. Sobre o desvio de medicamentos, afirmou que normalmente os enfermeiros não têm acesso direto aos fármacos, a menos que recebam por outras vias.

Contactada pelo jornal, a direção do Hospital Central de Nampula recusou qualquer ligação com os casos relatados e apelou aos utentes para que denunciem situações do tipo às autoridades competentes.

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