Investigar Pode Custar Caro: Riscos Crescentes para Jornalistas no País

“Inimigos do Estado”: A Realidade de Quem Faz Jornalismo em Moçambique

Um estudo recente, divulgado nesta quarta-feira (09/04) na cidade de Maputo, revela que o exercício do jornalismo em Moçambique enfrenta grandes obstáculos, principalmente fora da capital, onde o ambiente para os profissionais da comunicação é cada vez mais adverso.

A pesquisa, conduzida por Lucca Bussotti, Laura António e Armando Nhantumbo, aponta a província de Cabo Delgado como a mais crítica. Devido ao conflito armado na região, os jornalistas enfrentam o que os autores classificam como uma “guerra aberta” contra a prática jornalística.

Armando Nhantumbo explica que o clima hostil se agravou porque as autoridades tentaram impedir a cobertura de acontecimentos que os desfavoreciam, tornando Cabo Delgado praticamente inacessível para a imprensa.

Além dos desafios impostos pelo conflito no norte, os períodos eleitorais também são mencionados como momentos de elevada tensão para os jornalistas, que veem sua liberdade ainda mais restringida.

O estudo também alerta para a crescente aprovação de leis e medidas que dificultam a prática do jornalismo livre e independente, o que enfraquece o papel da imprensa na consolidação da democracia.

Para Bussotti, há uma percepção entre figuras políticas e económicas de que jornalistas investigativos são adversários, o que desencadeia estratégias de intimidação, como ameaças, subornos e tentativas de censura de matérias sensíveis.

As rádios comunitárias, especialmente em zonas rurais, são frequentemente alvos de represálias e encerramentos arbitrários, caso suas abordagens editoriais desagradem as autoridades locais.

Outro ponto crítico do levantamento é a exclusão das mulheres nas redações. Laura António observa que as jornalistas são geralmente relegadas a funções de menor destaque, sendo raramente designadas para cobrir temas como política ou eleições.

A pesquisa também denuncia casos de detenções arbitrárias e desaparecimentos de profissionais da comunicação, sobretudo fora de Maputo, onde a falta de proteção institucional aumenta ainda mais os riscos enfrentados por jornalistas.

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