Cidades fantasmas: os megaprojetos que nunca saíram do chão em Maputo

Será a “Cidade Jovem” uma exceção ou mais uma ilusão?

Na última quinta-feira (02/04), o Presidente da República, Daniel Chapo, presidiu em Maputo à cerimónia de lançamento do projeto habitacional “Cidade Jovem”. A iniciativa resulta de uma parceria entre o Governo moçambicano e o setor privado, tendo como principal foco a juventude, para quem a questão da habitação continua a ser um enorme desafio.

Apesar das promessas, o anúncio não foi recebido com grande entusiasmo, sobretudo por jovens que já testemunharam iniciativas semelhantes fracassarem, especialmente em Maputo e província circundante.

Embora lançado na capital, o projeto tem abrangência nacional e faz parte da estratégia de habitação do Governo. Em Maputo, prevê-se erguer, no bairro da Costa do Sol, mais de 5.700 apartamentos, uma torre panorâmica, centro comercial, zonas de lazer e outros empreendimentos, ocupando uma área superior a um milhão de metros quadrados.

Durante o evento, o Presidente Chapo tranquilizou ambientalistas, garantindo que as lagoas existentes na região serão preservadas e aproveitadas para passeios de barco, o que traz à mente uma espécie de “mini-Veneza”. Ainda assim, a magnitude do projeto — estimado em 2 mil milhões de dólares — não foi suficiente para afastar o ceticismo generalizado.

Desconfiança popular cresce nas redes sociais

Nas plataformas digitais, as reações foram dominadas pela descrença. Muitos internautas lembraram promessas anteriores, como os projetos “Casa Jovem” e “Uxene Smart City”, que acabaram por não sair do papel.

O projeto “Casa Jovem”, idealizado há 15 anos numa área próxima ao novo “Projecto Phoenix”, previa mais de 2.000 apartamentos, além de infraestruturas comerciais e de lazer. Contudo, pouco foi concretizado: apenas cinco edifícios com 96 apartamentos chegaram a ser construídos. Conflitos entre os parceiros — o Grupo Imox e a Fundação Joaquim Chissano — contribuíram para o colapso do plano, deixando muitos compradores com dívidas e sem casa.

Já o ambicioso “Uxene Smart City”, anunciado em 2022, tinha como meta erguer uma cidade inteligente em Marracuene, numa área de 610 hectares, com capacidade para mais de 100 mil pessoas. Avaliado em 3,5 mil milhões de dólares, incluía universidade, hospital, centro de negócios, parque ecológico, entre outros. No entanto, um conflito fundiário com mais de 300 moradores locais travou o projeto. Só em outubro de 2024, o Tribunal Judicial da Província de Maputo decidiu a favor da promotora Milhulamete, atribuindo-lhe o direito de uso do terreno.

Cidadela da Matola: outro exemplo do fracasso imobiliário

Outro caso emblemático é o da “Cidadela da Matola”, anunciada em 2010 durante o mandato de Arão Nhancale. Com a participação de empresas da África do Sul e Moçambique, previa-se a construção de espaços comerciais, serviços públicos, centros culturais e de saúde. No entanto, excetuando o edifício onde funciona atualmente o Conselho Municipal da Matola, nada foi concretizado.

Diante deste histórico de promessas não cumpridas, a juventude moçambicana olha com desconfiança para a “Cidade Jovem”, receando que se torne mais um projeto abandonado num “cemitério” de iniciativas imobiliárias na região de Maputo.

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