Durante o balanço dos primeiros 100 dias do seu mandato, o Presidente da República, Daniel Chapo, afirmou que todas as unidades sanitárias do país estão abastecidas com medicamentos. No entanto, essa declaração foi contestada pela Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM), cujo presidente, Anselmo Machave, acusou o Governo de distorcer a realidade vivida no setor da saúde.
A APSUSM retomou a greve nacional após o fracasso das negociações com o Executivo, uma medida que visa pressionar as autoridades a responder às suas exigências. A associação iniciou o diálogo com o Governo em junho de 2023 e havia concordado com uma trégua até 5 de novembro do mesmo ano. Porém, em abril deste ano, os profissionais de saúde decidiram retomar a paralisação, exigindo melhores salários, melhores condições de trabalho e o pagamento de subsídios de risco.
Em conferência de imprensa, Machave pediu desculpas à população pelas mortes ocorridas durante os primeiros dias da greve, mencionando que a paralisação total de serviços em algumas unidades teve impacto negativo na vida dos utentes. Ao mesmo tempo, criticou duramente o Governo por ter alegadamente ordenado cortes salariais ilegais como forma de retaliação.
“A nova paralisação teve início a 17 de abril de 2025 e está estruturada em fases, justamente para minimizar os danos à população que já sofre com a precariedade do sistema. Agradecemos aos colegas que aderiram massivamente, demonstrando que as ameaças feitas por diretores já não intimidam. Os cortes salariais planejados não surtiram efeito devido à estratégia adotada”, declarou Machave.
O líder da APSUSM também levantou sérias acusações contra a atuação do Governo, afirmando que há instruções para que médicos prescrevam medicamentos aleatórios quando os adequados não estão disponíveis, criando uma falsa impressão de normalidade nas farmácias das unidades sanitárias.
Apesar de sofrerem pressões e intimidações, os profissionais de saúde anunciaram a próxima etapa da greve, chamada “fase cirúrgica”. Nessa fase, não serão realizados turnos extras nem horas extraordinárias. O atendimento será limitado ao horário regular das 7h às 15h30, e o ritmo de trabalho será reduzido a uma hora por paciente.
“Vamos continuar a nossa luta por um sistema de saúde que sirva com dignidade e profissionalismo. Não seremos manipulados nem silenciados. Vamos usar todos os meios legais possíveis para forçar o Governo a garantir o direito básico à saúde da população moçambicana”, concluiu Anselmo Machave.