LAM e o Estado Podre: A Nação Que Se Habituou ao Roubo

Em Moçambique, a corrupção deixou de ser um problema pontual para se tornar parte do sistema. O que antes era vergonha, hoje é hábito institucionalizado — um modo de operar que empurra gerações para o abismo da pobreza, do cinismo e da desilusão coletiva.

A juventude, que deveria ser o motor da mudança, parece estar a ser moldada por uma cultura onde o desvio de fundos, os esquemas e a impunidade são vistos como vias legítimas para o sucesso. Já não é preciso esconder os actos ilícitos: eles acontecem diante das câmaras, nas manchetes e nas redes sociais, quase como se fossem parte do funcionamento “normal” do país.

Casos como o das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) ilustram o estado de podridão que tomou conta do sistema. Segundo denúncias feitas pelo próprio Ministro dos Transportes, João Matlombe, há tentativas internas de impedir a reestruturação da empresa, sugerindo uma sabotagem intencional e organizada. A empresa Fly Modern Ark (FMA), responsável pela gestão da LAM, revelou esquemas multimilionários de desvio: vendas clandestinas, recolha ilícita de fundos e faturação inflacionada. “Há dinheiro que entra, mas não chega às contas da empresa”, denunciou Sérgio Matos, representante da FMA. O rombo financeiro pode ultrapassar os três milhões de dólares, e até hoje, ninguém foi formalmente acusado.

O próprio presidente da FRELIMO, Daniel Chapo, veio a público admitir a existência de interesses ocultos dentro da LAM — indivíduos que lucram com contratos obscuros de aluguer de aviões. Uma declaração que revela: a corrupção não é apenas tolerada, é conhecida por quem governa e, em certos casos, promovida como prática corrente.

Os dados da Transparency International são um reflexo disso. No Índice de Perceção da Corrupção de 2024, Moçambique aparece no 142.º lugar entre 180 países, afundado num lamaçal ético e institucional. Não é apenas uma questão de números, é o retrato de um povo que já não espera justiça, nem acredita em meritocracia.

Como disse Joseph Stiglitz, Prémio Nobel da Economia, “a corrupção é o imposto dos pobres”. Em Moçambique, ela também é o roubo de sonhos, o motor da exclusão social, a raiz de uma insegurança que cresce a cada esquina, e o motivo pelo qual escolas e hospitais continuam a ser promessas não cumpridas.

A mudança não virá dos mesmos de sempre. Ela exigirá uma sociedade ativa, intolerante com a corrupção, exigente com a justiça e consciente de que o silêncio também é um tipo de cumplicidade. Precisamos educar desde cedo para a integridade, proteger quem denuncia e restaurar a confiança nos órgãos de soberania.

Ignorar este estado de coisas é aceitar uma sentença coletiva. O futuro de Moçambique não pode continuar a ser sequestrado por uma elite corrupta que troca o bem público por benefícios próprios.

Como disse Che Guevara, “ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética”. E, neste contexto, ser jovem e cúmplice é mais do que um erro — é uma traição à pátria e ao povo.

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