A situação política em Moçambique continua marcada por tensões e incertezas, principalmente após os eventos da Semana Santa e os desdobramentos que se seguiram às eleições de 2024. Os principais protagonistas deste cenário, Daniel Chapo e Venâncio Mondlane, enfrentam desafios estratégicos que poderão definir o rumo da governabilidade e da paz no país.
O economista e analista político Roberto Júlio Tibana, numa análise recente, chama a atenção para a necessidade urgente de uma mediação firme e credível. Ele destaca que Chapo e Mondlane vivem um momento crítico, onde as decisões tomadas poderão determinar se o país enveredará pelo caminho da cooperação ou do conflito prolongado.
Tibana recorre a conceitos das teorias de jogos e valores morais presentes nas Escrituras para ilustrar a atual crise, comparando-a a modelos como o “tit-for-tat” (resposta direta a cada ação) e o “tit-for-two” (modelo mais tolerante, baseado em cooperação mesmo após falhas iniciais). Para ele, insistir na retaliação mútua só agravará a desconfiança e a instabilidade. “O problema do tit-for-tat é que basta um pequeno erro ou mal-entendido para destruir completamente a relação”, explica.
Como alternativa, sugere que os dois líderes adotem uma postura mais conciliadora e estratégica, semelhante ao “tit-for-two”, observada até mesmo em comportamentos entre primatas, onde há espaço para perdão e reconstrução da confiança. Mas, para isso, defende a presença de uma mediação sólida, tecnicamente qualificada e dotada de autoridade e meios para garantir o cumprimento de acordos.
Ele critica duramente os mediadores que participaram da primeira tentativa de diálogo entre Chapo e Mondlane, considerando-os incapazes de oferecer garantias reais para ambas as partes. “Colocaram uma caixa de bananas diante dos ‘macacos’ e abriram-na, permitindo que o mais forte devorasse tudo, deixando o outro faminto”, ironizou Tibana.
O analista propõe cinco medidas essenciais para restaurar o diálogo e a estabilidade:
- Estabelecimento de um pacto de cooperação centrado no interesse nacional, eliminando práticas de exclusão e traição;
- Nomeação de mediadores experientes, com autoridade reconhecida internacionalmente — sugerindo o envolvimento da ONU ou de grandes potências;
- Criação de mecanismos transparentes para monitorar os acordos alcançados;
- Inclusão dos principais atores políticos no processo de diálogo, incluindo todos os candidatos presidenciais de 2024;
- Elaboração de uma agenda abrangente que analise as origens do conflito e explore modelos de governação conjunta e representativa.
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