A prisão de Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido como Fuminho, em Maputo, em 2020, levantou sérias questões sobre a cumplicidade de autoridades moçambicanas com redes internacionais de tráfico de drogas. Foragido desde 1999, Fuminho era um dos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), o maior e mais temido grupo criminoso do Brasil. Ele foi capturado pela Interpol após viver mais de uma década em Moçambique, onde se instalou após uma longa estadia na Bolívia — outro conhecido reduto do narcotráfico.
O caso tornou-se ainda mais grave quando veio à tona que Fuminho teria sido nomeado adido comercial de Moçambique, supostamente com apoio de autoridades locais. Especialistas afirmam que esse tipo de nomeação só ocorre após processos rigorosos de verificação de antecedentes, o que levanta suspeitas de que quem o nomeou sabia exatamente com quem estava lidando.
Fontes de segurança brasileiras e internacionais indicam que durante sua permanência em Moçambique, Fuminho manteve ativa sua atuação no tráfico internacional de cocaína, utilizando rotas que atravessam países da África Austral com destino à Europa. Relatórios da Polícia Federal do Brasil, da Interpol e de organizações como o ISS Africa e a Global Initiative Against Transnational Organized Crime destacam Moçambique como um dos pontos vulneráveis no combate ao tráfico, devido à infiltração do crime organizado em instituições do Estado.
A prisão de Fuminho deveria ter sido um ponto de partida para investigações aprofundadas por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR) de Moçambique, a fim de identificar os parceiros locais que facilitaram sua estadia e proteção. Contudo, até hoje, nenhuma autoridade moçambicana foi responsabilizada, e não se conhecem avanços reais nas investigações sobre o possível envolvimento de figuras políticas ou funcionários públicos no caso.
“É impossível que alguém dessa envergadura tenha vivido tanto tempo no país sem proteção de dentro”, afirma um investigador anônimo ligado à Interpol. Para analistas de segurança, o caso é sintomático de como redes criminosas internacionais podem infiltrar-se em estruturas estatais frágeis, neutralizando o sistema de justiça e ampliando a impunidade.
A história de Fuminho é mais do que um caso isolado: ela é um retrato da conivência entre criminalidade organizada e fraqueza institucional, onde o tráfico de drogas opera com a ajuda — ou pelo silêncio — de setores do poder.
Fontes: