A Força de Defesa de Ruanda (RDF), empenhada no combate aos grupos terroristas na província de Cabo Delgado, sofreu a perda de quatro soldados em uma emboscada ocorrida no mês de maio, numa área florestal em Mocímboa da Praia. A informação foi confirmada pelo porta-voz militar ruandês, Brigadeiro-General Ronald Rwivanga. Inicialmente, o número de vítimas fatais havia sido divulgado como três, junto com seis militares feridos, sendo essa a primeira vez que Ruanda reporta quatro baixas na zona norte de operações.
Em declarações ao portal DefenceWeb, Rwivanga destacou que a insurgência permanece ativa na região norte de Moçambique.
Apesar dos ataques esporádicos realizados por insurgentes ligados ao Estado Islâmico, conhecidos localmente como Estado Islâmico de Moçambique (ISM), a RDF afirma controlar a situação na estratégica província, rica em recursos como petróleo e gás natural.
Segundo o porta-voz, uma das principais conquistas das forças ruandesas foi forçar os insurgentes a se refugiarem em densas áreas florestais, onde atualmente buscam suprimentos atacando aldeias para roubar alimentos.
O ataque mais significativo dos insurgentes neste ano ocorreu no final de abril, na Reserva do Niassa, onde 10 pessoas foram mortas, incluindo dois guardas florestais.
Desde julho de 2021, a RDF opera em Cabo Delgado e também registrou baixas em maio durante operações para capturar insurgentes escondidos na floresta.
“Apesar do progresso, perdemos quatro soldados há algumas semanas, após cairmos em uma emboscada dentro da floresta”, acrescentou Rwivanga.
O combate na selva é particularmente difícil, e as tropas ruandesas utilizam drones para localizar insurgentes. No entanto, o terreno denso dificulta a visibilidade.
A mudança dos insurgentes para áreas florestais dificultou suas operações, pois a RDF afirma ter bloqueado seu acesso ao Oceano Índico, rota fundamental para conexão com as redes do ISIS na África.
“Todas as regiões costeiras foram liberadas. Cortamos o acesso a alimentos e meios de comunicação”, afirmou o porta-voz.
Ruanda enviou inicialmente suas tropas para o norte de Cabo Delgado em julho de 2021, enquanto a Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM) atuava no sul.
Inicialmente, os militares ruandeses estavam concentrados nos distritos de Palma e Mocímboa da Praia, áreas onde estão localizados os projetos de gás natural liquefeito (GNL).
Após a saída da SAMIM, as forças ruandesas foram deslocadas para o sul da província. Atualmente, segundo Rwivanga, cerca de 5.000 soldados ruandeses estão no terreno.
No entanto, Ruanda não pretende permanecer indefinidamente no país. Em 24 de maio, 525 militares das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) concluíram um curso avançado de infantaria de seis meses, ministrado por instrutores ruandeses.
Na cerimônia de formatura, o Presidente Daniel Chapo lembrou que o último treinamento similar para as FADM havia sido realizado em 2011 pelos Estados Unidos.
Um dos motivos para a dificuldade das FADM em conter o avanço do ISIS tem sido a falta de treinamento e disciplina, áreas nas quais a RDF afirma ter ampla experiência.
Rwivanga também destacou que Ruanda já enfrentou insurgências similares no passado, como a tentativa de desestabilização promovida pelos remanescentes extremistas hutus entre 1996 e 1998 na República Democrática do Congo (RDC).
“Sabemos como lutar contra esse tipo de insurgência. Não pretendemos ficar em Moçambique para sempre; por isso, estamos formando as forças locais”, afirmou.
Apesar das ações, a insurgência continua ativa em Cabo Delgado. A Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) informou que cerca de 25 mil pessoas foram deslocadas recentemente, necessitando urgentemente de alimentos, abrigo, cuidados médicos e proteção. A agência destacou que apenas 32% dos recursos necessários foram financiados, colocando mais vidas em risco.
Somente em 2024, pelo menos 349 mortes foram registradas em ataques de grupos extremistas islâmicos na província, segundo dados recentes do Centro de Estudos Estratégicos de África, órgão vinculado ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos, que acompanha conflitos no continente africano.