Especialista Detalha os Erros do Governo de Daniel Chapo nos Primeiros 100 Dias

Com quase 100 dias de liderança, o Governo moçambicano liderado por Daniel Chapo cumpriu menos da metade das metas inicialmente definidas. O país enfrenta um cenário económico crítico, marcado por uma dívida pública recorde de cerca de 14,3 mil milhões de euros e um índice de pobreza que atinge 65% da população.

Em conversa com a RFI, André Mulengue, investigador do Centro para a Democracia e Desenvolvimento, avaliou de forma negativa os primeiros meses do novo Executivo. Para ele, as medidas implementadas não refletem as necessidades reais da população e parecem estar direcionadas para beneficiar o partido Frelimo, ao invés de atender a todos os cidadãos moçambicanos.

Mulengue sublinhou que apenas 48 medidas foram efetivamente realizadas e alertou que o incumprimento das promessas dos primeiros 100 dias pode comprometer a execução do plano quinquenal do Governo. Um dos pontos destacados pelo Governo, como a criação de um Fundo de Desenvolvimento Local, é visto com ceticismo por ele, principalmente quanto à transparência e critérios de distribuição dos fundos, temendo práticas clientelistas já vistas em experiências passadas.

Apesar das intenções de criar empregos e estimular a economia, há receios de repetição de erros históricos. Questões como o atraso nos pagamentos aos fornecedores do Estado e ao setor público de saúde e educação ainda não foram resolvidas. Para o analista, o foco deveria estar na estabilidade interna e no diálogo político genuíno, como base para o crescimento económico.

Sobre a dívida pública, o especialista apontou que a maior parte dela não contribuiu para o desenvolvimento nacional, servindo, em muitos casos, para alimentar redes de corrupção e financiar estratégias políticas duvidosas nos últimos anos de mandatos presidenciais anteriores.

Diante de uma dívida considerada insustentável, a capacidade do atual Governo de atrair investimentos ou financiar o setor privado é bastante limitada, o que pode enfraquecer ainda mais a economia.

Em relação ao possível reajuste salarial adiado para agosto, Mulengue prevê aumento do descontentamento popular, visto que os salários continuam baixos apesar da alta no custo de vida. Ele reconhece, no entanto, os desafios enfrentados pelo setor empresarial diante da baixa produtividade atual.

Por fim, o Governo propõe rever contratos com multinacionais que exploram os recursos naturais do país. Mulengue defende que, caso as cláusulas desses acordos não favoreçam os moçambicanos, é essencial renegociar para garantir que os recursos beneficiem verdadeiramente o país.

Chapo afirma que Moçambique mudou, mas a realidade ainda mostra que os frutos do desenvolvimento não chegaram à maioria da população.(RFI)

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