Apesar da turbulência social vivida entre Outubro de 2024 e Janeiro de 2025 — com protestos que resultaram em centenas de mortes e danos significativos ao património público e privado — a Frelimo parece manter a mesma linha de conduta, sem sinais de mudança ou abertura.
No último sábado, milhares de membros e simpatizantes do partido realizaram marchas em diversas províncias do país para saudar os 100 dias de governação do Presidente Daniel Chapo. O acto decorreu sem qualquer intervenção policial, contrastando fortemente com a recente repressão de uma manifestação pacífica liderada pelo activista Clemente Carlos em Maputo, que foi interrompida pela polícia armada, apesar de seguir os trâmites legais.
A situação espelha o padrão observado durante o mandato de Filipe Nyusi, onde marchas públicas estavam, na prática, reservadas à Frelimo e seus órgãos. A repressão a manifestações pacíficas e a celebração pública exclusiva ao partido no poder indicam a persistência de práticas que restringem a livre expressão e participação cidadã.
Relatos provenientes de vários distritos apontam ainda para uma prática contínua de favorecimento partidário na nomeação de quadros para cargos públicos. Em Marracuene, por exemplo, a primeira secretária da Frelimo tem pressionado as autoridades locais a preencherem vagas com membros do partido, independentemente da competência demonstrada.
Documentos internos e mensagens interceptadas revelam o descontentamento da liderança distrital por não ser consultada nas nomeações. A dirigente Lilita Moiane lamenta que administrações ignorem as indicações do partido, exigindo maior controlo e reconhecimento dos militantes nas decisões governamentais.
Também foi reportado que o município de Marracuene recebeu listas de membros do partido para inserção directa na Polícia Municipal, com pedidos para que candidatos ligados à Frelimo sejam priorizados, inclusive em concursos públicos.
Apesar das expectativas geradas pelos protestos e do desejo de muitos cidadãos por inclusão e meritocracia, os acontecimentos recentes demonstram que a elite dirigente da Frelimo não alterou substancialmente sua abordagem política e administrativa, mantendo práticas que alimentam a exclusão e o favoritismo.
