A Dugongo Moçambique, uma das principais fabricantes de cimento do país, atribui o elevado custo do produto no mercado nacional à necessidade de importar carvão da África do Sul, fator que encarece o processo produtivo. Segundo a empresa, apesar de Moçambique possuir reservas significativas de carvão na província de Tete, a falta de infraestruturas adequadas, como estradas em boas condições, inviabiliza economicamente o aproveitamento interno do recurso.
Em entrevista à TORRE.News, o administrador operacional da Dugongo, Issufo Ali, explicou que reduzir os preços atualmente é algo difícil. “É precipitado falar em baixar os preços. O cimento não é feito só de clínquer, envolve também carvão, que infelizmente precisamos de importar. Usar carvão de Tete seria ideal, mas as vias de acesso são um obstáculo”, afirmou.
O processo de fabrico do cimento é dispendioso e requer diversos insumos como clínquer, calcário, energia, gasóleo e matérias-primas importadas. Ali alerta que forçar uma baixa de preços pode colocar em risco a sustentabilidade da produção e afetar negativamente toda a cadeia industrial.
Para minimizar os custos logísticos – considerados uma das principais causas da diferença de preços entre as regiões do país – a empresa investiu recentemente na aquisição de dois navios de grande porte destinados ao transporte marítimo de cabotagem. A meta é facilitar o abastecimento nas regiões centro e norte, onde os preços do cimento chegam a atingir entre 620 e 650 meticais por saco, comparados aos 420 a 450 meticais nas províncias do sul.
Os navios também servirão para transportar clínquer até à cidade de Nacala, onde está em construção uma nova unidade fabril da Dugongo, que servirá para abastecer o norte do país de forma mais eficiente.
A empresa também comentou a proposta do político Venâncio Mondlane, que sugeriu a venda do cimento a menos de 300 meticais por saco. A Dugongo considera a proposta insustentável face ao aumento dos custos de matérias-primas como carvão e combustível. Em mercados como a África do Sul, o cimento chega a ser exportado abaixo do custo de produção, apenas para garantir entrada de divisas e manter o funcionamento da operação.
Enquanto isso, o Ministério da Economia anunciou a intenção de eliminar a taxa de protecção de 20% que beneficia atualmente a indústria cimenteira, uma medida que visa estimular a concorrência e, eventualmente, reduzir os preços ao consumidor. Questionado sobre essa possibilidade, Issufo Ali preferiu aguardar uma decisão formal do Governo antes de comentar.
A Dugongo lançou, em 2021, uma nova linha de produção a seco com capacidade de 5.000 toneladas diárias e uma central térmica de 36 MW, num investimento avaliado em 260 milhões de dólares. A empresa tem hoje uma capacidade anual de produção de dois milhões de toneladas, gerando cerca de 220 milhões de dólares em valor de produção.
Na época do lançamento da nova unidade, o cimento era vendido a preços inferiores a 300 meticais por saco, o que facilitava a construção de habitações para muitas famílias. No entanto, com o atual cenário económico, marcado por dificuldades cambiais e aumento dos custos operacionais, a empresa acredita que só será possível baixar os preços com melhorias estruturais no sistema logístico e no acesso competitivo a matérias-primas nacionais.
