Burkina Faso: O Eco de Sankara no Comando de Ibrahim Traoré

Notícias de Todos|Abril 21, 2025 – Burkina Faso vive, hoje, um momento que ecoa o espírito revolucionário de um dos seus maiores heróis nacionais. Décadas após o assassinato de Thomas Sankara — conhecido como o “Che Guevara Africano” —, muitos observadores veem no atual presidente interino, Ibrahim Traoré, uma continuidade viva do legado deixado por Sankara.

O Legado de Thomas Sankara

Thomas Sankara governou Burkina Faso entre 1983 e 1987, período em que implementou reformas radicais centradas na autossuficiência, soberania e justiça social. Ele rejeitou categoricamente o apoio de instituições como o FMI e o Banco Mundial, priorizando a produção interna e investindo fortemente na agricultura. Sob sua liderança, o país tornou-se autossuficiente em alimentos, um feito notável numa região severamente afetada pela insegurança alimentar.

Além disso, Sankara cortou os salários dos altos funcionários do Estado — incluindo o seu próprio — e vivia de maneira simples, com um salário mensal de apenas 450 dólares, possuindo apenas um carro, algumas bicicletas, guitarras, uma geladeira e uma modesta residência. Ele acreditava que o exemplo deveria vir de cima.

Sankara também compreendia os riscos de seu posicionamento anti-imperialista, especialmente contra a França. Pouco antes de ser assassinado, ele já previa que sua vida corria perigo, mas mantinha firme sua convicção de que “podem matar os revolucionários como indivíduos, mas nunca poderão matar as ideias”.

A Ascensão de Ibrahim Traoré

Em setembro de 2022, o capitão Ibrahim Traoré assumiu a liderança do país após a deposição de Paul-Henri Damiba. Jovem, carismático e firme nas palavras, Traoré rapidamente foi comparado a Sankara não apenas por seu modo de ascensão ao poder, mas também pelas medidas que passou a implementar.

Traoré tem promovido políticas nacionalistas, reformado estruturas coloniais e incentivado o uso de símbolos culturais locais. Uma das suas ações mais simbólicas foi substituir as togas judiciais de origem francesa por vestes tradicionais de algodão local, num esforço para reafirmar a identidade cultural burquinabê.

Em discursos públicos, ele frequentemente cita Sankara e reforça a necessidade de descolonizar mentalidades, economias e instituições. A sua retórica, aliada às suas ações, tem conquistado o apoio de uma juventude ávida por mudanças estruturais e por uma liderança que priorize os interesses do povo.

A Luta Continua

A ligação simbólica entre Sankara e Traoré vai além do estilo de governo. Ambos enfrentaram resistência interna, tentativas de desestabilização e ameaças à sua integridade física. No entanto, a mensagem permanece clara: o sonho de uma África soberana, livre da exploração externa, ainda vive.

Observadores políticos e analistas internacionais destacam que, embora os contextos históricos sejam distintos, a essência da luta de Sankara permanece viva em Traoré. “Ele é o rosto moderno de uma revolução não concluída”, afirmou um artigo da The Economist.

Educação como Pilar da Continuidade

Especialistas africanos defendem que a história de líderes como Thomas Sankara, Patrice Lumumba, Julius Nyerere, Kwame Nkrumah, Amílcar Cabral, Muammar Gaddafi e outros seja parte do currículo escolar em toda África. Para garantir que as ideias de liberdade e emancipação continuem a florescer, é essencial educar as gerações futuras sobre os sacrifícios feitos em nome da verdadeira independência.

Como declarou Sankara: “Enquanto os revolucionários podem ser mortos, ideias não morrem.” Hoje, essas ideias renascem com força no coração e nas ações de Ibrahim Traoré.

Fontes consultadas:

AP News

El País

The Economist

African Voice Online

Modern Ghana

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