Os países do Sahel, como Níger, Mali e Burkina Faso, estão a investir em estratégias para reduzir a dependência de empresas estrangeiras na extração de recursos naturais. A aposta passa por fortalecer a participação de companhias locais no setor mineiro e diversificar as economias nacionais.
No Níger, por exemplo, o Governo concedeu à empresa nacional Minieres de l’Air Cominair SA uma licença para explorar cobre no deserto próximo a Agadez. A medida faz parte de uma política que visa aumentar o controlo estatal sobre os recursos minerais e promover o crescimento económico local.
Segundo Ulf Laessing, coordenador do programa regional da Fundação Konrad Adenauer no Mali, essa tendência se alinha à de outros países vizinhos, como o Mali e o Burkina Faso, que também procuram maior autonomia nas suas operações mineiras. No entanto, Laessing alerta para os desafios da região, especialmente no que diz respeito à segurança — a mina de cobre está localizada numa zona instável próxima à fronteira com a Líbia.
A mina de Moradi, operada pela Cominair, deverá produzir cerca de 2.700 toneladas de cobre por ano durante uma década, criando centenas de empregos. Além disso, está prevista a extração de lítio em Dannet, também nas proximidades de Agadez, através da empresa Comirex SA, com uma meta anual de 300 toneladas.
O Estado nigerino possui 25% de participação na operação de cobre e 40% na de lítio, o que reforça o esforço de manter parte dos lucros e do controlo nas mãos do Governo. Apesar disso, o caminho para o sucesso não está livre de obstáculos. Laessing aponta que o país enfrenta limitações técnicas, falta de experiência e desafios de financiamento.
Historicamente, o Níger também teve um papel importante na produção de urânio. Em 2022, contribuiu com cerca de 5% da produção global. No entanto, desde o golpe militar de 2023, a exportação foi severamente afetada devido ao encerramento da fronteira com o Benim, que possui o único porto autorizado para exportações.
Recentemente, o Governo militar anulou a licença da francesa Orano, que atuava há cinco décadas no setor de urânio, e também da canadiana GoviEX. Agora, o país busca alternativas, como acordos com a Rússia, através da Rosatom, e negociações com o Irão.
Para Seidik Abba, diretor do grupo de reflexão CIRES, sediado em Paris, esta mudança reflete o desejo antigo dos países do Sahel de diversificar suas alianças internacionais. Ele ressalta que, mesmo após o colonialismo, os termos das relações comerciais com o Ocidente sempre foram desequilibrados, com os africanos submetidos a preços e condições impostas unilateralmente.
Essa reorientação geopolítica e económica, embora ainda em fase inicial, representa um passo dos governos da região rumo a uma gestão mais soberana dos seus recursos naturais.
