Na última quinta-feira, 7 de agosto de 2025, três caminhões de ajuda humanitária e quatro veículos de transporte semicoletivo foram parados por homens armados na estrada Nacional 380 (N380), em Cabo Delgado. Os ocupantes foram forçados a pagar valores entre 200 e 10.000 meticais para continuar a viagem, em um trecho fora da área protegida por escoltas militares.
O incidente ocorreu na região de Nagororo, na N380, uma das principais rotas que ligam o norte da província. Os atacantes, fortemente armados, impuseram uma espécie de “pedágio ilegal”, retirando as pessoas dos veículos e exigindo os pagamentos sob ameaça.
Cristóvão Alberto, secretário permanente de Macomia, informou que os valores cobrados variavam conforme o tipo de veículo e a situação, com alguns motoristas pagando até 10 mil meticais para seguir viagem. O local do ataque fica próximo ao rio Montepuez e à pedreira de Silva Macua, áreas que têm registrado aumento nos episódios violentos nas últimas semanas.
A escalada da violência tem preocupado autoridades e moradores locais. Alberto afirmou que as Forças de Defesa e Segurança (FDS), em parceria com tropas ruandesas, estão empenhadas em restabelecer a ordem na região. Contudo, a ausência de escoltas militares em certos trechos tem facilitado a ação dos insurgentes.
Mamudo Irach, presidente da Confederação das Associações Económicas (CTA) em Cabo Delgado, enfatizou a necessidade de reforçar a segurança nas estradas, sugerindo o aumento das escoltas militares entre Macomia e Awasse para duas vezes ao dia. “Estamos em negociação para dobrar a frequência das escoltas, o que trará mais segurança para transportadores e comerciantes”, declarou.
O bloqueio e as cobranças ilegais prejudicaram significativamente o transporte de mercadorias e a entrega de ajuda humanitária. Muitos transportadores cancelaram suas viagens na rota temendo novos ataques, o que agravou a crise de abastecimento em várias localidades da província.
Desde 2017, Cabo Delgado enfrenta uma insurgência armada vinculada ao Estado Islâmico, que já provocou o deslocamento de mais de 1 milhão de pessoas e grandes prejuízos à economia regional. A violência frequente interrompe o comércio e o transporte de bens essenciais.
O episódio ocorre em meio ao aumento das ações insurgentes, que causaram o deslocamento de cerca de 57 mil pessoas nas últimas semanas, segundo organizações humanitárias. A limitada presença estatal em áreas remotas da província contribui para a continuidade dos ataques, mesmo com a atuação das forças militares moçambicanas e ruandesas desde 2021.
O governo e parceiros internacionais continuam os esforços para conter a crise e restaurar a segurança, mas os desafios permanecem grandes. Empresários e autoridades locais pedem o reforço das operações para garantir a proteção da população e a retomada da normalidade econômica e social na região.
