OUAGADOUGOU, 14 de maio de 2025 – Um novo capítulo está sendo escrito no coração da África Ocidental. O Burkina Faso, liderado pelo Capitão Ibrahim Traoré, está no centro de uma ousada reviravolta geopolítica que ameaça desmantelar décadas de dominação neocolonial imposta por potências ocidentais. Com medidas radicais de soberania econômica, militar e política, o país africano tornou-se símbolo de resistência e esperança para todo o continente.
A Face Oculta do Neocolonialismo Francês
Desde a independência formal, a África francófona nunca conseguiu se libertar completamente das amarras da França. Com tropas estacionadas em seus territórios e um sistema monetário controlado pelo Banco Central francês por meio do franco CFA, a independência desses países foi severamente limitada. Governos que tentaram romper com essa ordem, como o de Thomas Sankara em Burkina Faso nos anos 1980, sofreram violentas repressões, muitas vezes com apoio direto ou indireto do Ocidente.
A história se repete, mas desta vez com um desfecho diferente.
A Ascensão de Ibrahim Traoré e o Fim do Domínio Estrangeiro
Ibrahim Traoré chegou ao poder em setembro de 2022 através do Movimento Patriótico para a Salvaguarda e Restauração (PMSR), com apoio popular e das Forças Armadas. Desde então, não poupou esforços para restabelecer a soberania nacional. Expulsou tropas francesas e americanas do território burquinense, encerrando uma presença militar de décadas. Também retirou o país do acordo do franco CFA, libertando sua economia do controle francês.
Em conjunto com Mali e Níger, Burkina Faso criou a Aliança de Estados do Sahel (AES) – um bloco regional que rompe com a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), considerada instrumento dos interesses neocoloniais.
Ouro: A Nova Arma de Libertação
Em 2024, Traoré fundou a estatal SOPAMIB, responsável por nacionalizar minas de ouro anteriormente dominadas por empresas estrangeiras. O país, que produziu 57 toneladas de ouro apenas no ano passado, começou a canalizar essas riquezas para o povo burquinense. Os lucros da nacionalização vêm sendo investidos em industrialização, saúde, educação e infraestrutura.
Também foram adotadas políticas para transformar produtos primários no próprio país e alcançar a autossuficiência alimentar, incluindo a instalação de uma refinaria de ouro e o estímulo à agricultura local.
Como resultado, o governo conseguiu quitar a dívida externa de US$ 4,7 bilhões, libertando-se da dependência de instituições financeiras internacionais. (fonte)
Reações Ocidentais e Tentativa de Golpe
O sucesso do modelo burquinense despertou a fúria de Washington. O general Michael Langley, comandante do AFRICOM, acusou Traoré de desviar recursos do ouro para benefício pessoal. A acusação foi rejeitada pela opinião pública africana como tentativa velada de justificar um golpe de Estado.
E o golpe veio. Em 16 de abril, uma tentativa frustrada de derrubar Traoré foi executada, possivelmente com apoio logístico da vizinha Costa do Marfim, onde os autores do assassinato de Sankara ainda vivem sob proteção. Os conspiradores foram detidos, e manifestações massivas em defesa de Traoré tomaram as ruas do país e de outras nações africanas.
O Povo Africano Retoma o Sonho dos Revolucionários
A luta de Traoré reacendeu o espírito de libertação que marcou as trajetórias de figuras históricas como Thomas Sankara, Patrice Lumumba, Amílcar Cabral, Eduardo Mondlane, Kwame Nkrumah e Julius Nyerere. De norte a sul do continente, o povo africano começa a erguer sua voz contra o neocolonialismo e em defesa da soberania total sobre seus recursos.
O Futuro da África em Jogo
Com o crescimento da demanda global por minerais estratégicos – especialmente com o avanço de tecnologias emergentes – o continente africano volta ao centro da disputa imperialista. O governo dos EUA, sob Donald Trump, já demonstra interesse em controlar reservas no Congo e noutras regiões africanas.
Mas a resistência africana está mais viva do que nunca.
Enquanto os interesses ocidentais se tornam cada vez mais agressivos, a África Ocidental emerge como campo de batalha entre o imperialismo e os ventos renovados da libertação, encabeçados por governos como o de Burkina Faso.