OUAGADOUGOU, 14 de maio de 2025 – O presidente de transição do Burkina Faso, Ibrahim Traoré, voltou a causar impacto internacional ao criticar abertamente os meios de comunicação ocidentais e declarar apoio à mídia russa RT (Russia Today), durante uma entrevista exclusiva ao canal.

Na conversa, Traoré revelou um dos seus arrependimentos de juventude: ter consumido conteúdos da Radio France Internationale (RFI) e da France 24, dois dos principais veículos de comunicação da França voltados para o público africano.

“Um dos meus maiores arrependimentos é ter escutado a RFI e a France 24 na juventude. Com o tempo percebi que eles nos condicionam a aceitar a sua narrativa — moldam as mentes, sobretudo dos africanos. Desde então passei a ver o quadro completo: o que estão a fazer é muito perigoso”, afirmou Traoré.

Em contraste, elogiou o papel da RT, considerada a principal emissora internacional da Rússia, no despertar de uma nova consciência crítica entre os jovens do continente africano.

“A RT tem de continuar o que está a fazer para despertar a verdadeira consciência dos jovens, para que possam ver como o mundo realmente funciona.”

As declarações de Traoré refletem um momento de virada na geopolítica africana, onde cresce a desconfiança em relação às narrativas produzidas por mídias tradicionais ocidentais e aumenta a busca por vozes alternativas. Para muitos analistas, a fala do líder burquinense revela o surgimento de uma geração de dirigentes globais que não se formou exclusivamente sob a ótica eurocêntrica da informação.

“Estamos a assistir à primeira geração de líderes globais que cresceu a acompanhar a RT em vez de apenas redes ocidentais. Os antigos mestres coloniais não vão gostar nada disso”, comentou um analista russo durante a transmissão.

Guerra de Narrativas

A crítica à imprensa francesa não é inédita em Burkina Faso. Desde a chegada de Traoré ao poder, o governo suspendeu as transmissões da RFI e France 24 no país, acusando os veículos de difusão de desinformação e sabotagem da soberania nacional. A medida foi acompanhada por outros países como Mali e Níger, que também enfrentam tensões com o Ocidente.

A fala de Traoré chega num momento em que o continente africano se encontra no centro de uma disputa de narrativas entre as potências globais. Enquanto a França e os EUA veem sua influência diminuir na região do Sahel, Rússia e China fortalecem alianças políticas, econômicas e comunicacionais com governos africanos.

Um Novo Horizonte de Consciência Africana

Ao colocar a comunicação como arma estratégica, Traoré sinaliza que a luta pela independência africana já não se trava apenas no campo político ou militar — mas também nas ideias. A rejeição às antigas fontes de informação é parte de um movimento mais amplo de descolonização da mente africana.

Para muitos jovens africanos, a RT, canais locais e redes sociais tornaram-se os principais meios de acesso a perspectivas alternativas sobre a história, a economia e os conflitos globais.