Após o baleamento do músico Joel Amaral, conhecido como MC Trufafa, durante os protestos pós-eleitorais, o presidente do Conselho Municipal de Quelimane, Manuel de Araújo, exige justiça célere e transparente. O autarca pede que o Presidente da República, Daniel Chapo, autorize a entrada de organizações internacionais para investigar os atos de violência atribuídos às forças de segurança.
“Quem não deve, não teme”, declarou Araújo, referindo-se à necessidade de permitir que instituições como a Human Rights Watch, Amnistia Internacional e a Comissão dos Direitos Humanos da ONU realizem investigações independentes no país. Ele afirma que tais organizações aguardam há meses por uma resposta do Governo para poderem atuar no terreno.
O pedido surge após o atentado contra Joel Amaral, funcionário do município e músico local, baleado no último domingo. O edil classifica o ataque como um “ato bárbaro” e alerta para uma onda de violência na província, alegadamente protagonizada por membros das forças de defesa e segurança, os quais, segundo denúncias, estariam envolvidos numa “caça ao homem”.
Araújo diz que cidadãos estão sendo perseguidos e assassinados por supostos esquadrões ligados ao Estado, transformando distritos da província de Zambézia em zonas de medo. “Há um clima de terror. Precisamos que o Presidente mande cessar imediatamente essa perseguição aos civis”, apelou.
Amnistia Internacional denuncia repressão violenta
A Amnistia Internacional também reagiu ao episódio, classificando o ataque a MC Trufafa como um atentado à liberdade de expressão e à participação política. Miguel Marujo, diretor de comunicação da Amnistia em Portugal, apelou a investigações urgentes e imparciais sobre os casos de repressão contra manifestantes e figuras da oposição.
No seu mais recente relatório, intitulado “Protestos sob ataque”, a organização denuncia o uso desproporcional da força por parte das autoridades moçambicanas na sequência das manifestações pós-eleitorais de outubro de 2024. O documento, baseado em entrevistas, análises de vídeos, fotos e fontes abertas, aponta para o uso de armas letais, gás lacrimogéneo e balas de borracha contra civis — incluindo crianças — o que resultou em mortes e ferimentos graves.
Embora o Presidente Chapo tenha afirmado, em janeiro deste ano, que o Governo investigaria os acontecimentos, a Amnistia afirma que até agora as vítimas e os seus familiares não viram qualquer avanço em termos de justiça. A organização reforça que, além de assistência médica e compensações, é fundamental responsabilizar os autores das violações.
Miguel Marujo destaca que apenas com investigações completas e julgamentos justos será possível restaurar a confiança da população no sistema de justiça e garantir o respeito pelos direitos humanos em Moçambique.