Nampula – No distrito de Mossuril, província de Nampula, os 50 anos de independência de Moçambique não são vistos com entusiasmo. Enquanto o país se prepara para assinalar meio século de soberania, muitos residentes daquela região costeira afirmam que não existem razões concretas para celebrar, apontando que os problemas sociais e económicos continuam a marcar o dia-a-dia da população.

Apesar das cinco décadas de independência, Mossuril continua a enfrentar sérias dificuldades, com indicadores de desenvolvimento bastante abaixo das expectativas. Um dos pontos críticos destacados pela população é a situação das estradas, especialmente a via principal que liga o distrito à cidade de Nampula, asfaltada no mandato do ex-presidente Filipe Jacinto Nyusi, mas que rapidamente se encontra em más condições, agravando o sentimento de insatisfação entre os habitantes.

Em declarações recolhidas pelo Ikweli, vários residentes expressaram frustração com o actual estado do distrito, classificado pelo governo como zona turística, mas que, na prática, carece de infraestruturas básicas.

“Falamos de 50 anos de independência, mas Mossuril não conhece essa realidade. As vias de acesso são um problema, para ir de Mossuril até Matibane precisamos contornar via Monapo. A questão da água também está longe de ser resolvida, e as nossas escolas estão em péssimas condições. Assim é difícil festejar,” disse Gabriel Sahire, um dos moradores.

Sahire também chamou atenção para o elevado desemprego entre os jovens, revelando que a pesca é praticamente a única fonte de rendimento. “Quando o mar não ajuda, a situação dos jovens fica ainda pior.”

Por sua vez, Abel Sieia, jovem local, partilhou a mesma preocupação. “Terminei o ensino secundário há três anos e ainda não consegui emprego. Muitos jovens aqui sonham com um futuro melhor, mas as oportunidades não aparecem.”

Nesta quarta-feira, data em que se celebra o cinquentenário da independência, os habitantes de Mossuril apelam para que o momento sirva de reflexão e seja acompanhado de compromissos concretos por parte das autoridades.

“Queremos que os dirigentes olhem para Mossuril. Temos recursos naturais, potencial turístico, pesca e agricultura, mas sem estradas, sem investimento e sem infraestruturas, continuaremos presos à pobreza,” lamentou Rosa Mateus, comerciante no mercado local.

Enquanto em várias províncias do país as celebrações decorrem com entusiasmo, em Mossuril o sentimento é de insatisfação, pois os moradores acreditam que só haverá motivos reais para festejar quando surgirem melhorias visíveis na região.

É importante lembrar que Mossuril é frequentemente afectado por fenómenos naturais severos, incluindo ventos fortes, chuvas intensas e descargas eléctricas, que resultam em inundações e deixam centenas de famílias desalojadas todos os anos.