A passagem da empresa sul-africana Fly Modern Ark (FMA) pela gestão da companhia Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) está a ser marcada por uma tempestade de acusações, desvios financeiros e suspeitas de manipulação política. Contratada em fevereiro de 2023 para reestruturar a companhia de bandeira, a FMA viu sua parceria com o Governo moçambicano ser encerrada em setembro de 2024, em meio a uma avalanche de questionamentos sobre a autenticidade dos relatórios financeiros e a real eficácia da intervenção.
Em entrevista concedida à MBC, o especialista em aviação Alves Gomes revelou que os relatórios financeiros e de consultoria apresentados pela Fly Modern Ark eram falsos. Segundo Gomes, esses documentos foram manipulados para encobrir deficiências graves na gestão da LAM e servir interesses políticos ocultos. “Havia uma intenção clara de usar a intervenção como ferramenta de marketing político, e não como solução técnica e financeira real para a LAM”, disse o especialista.
Durante o período de gestão da FMA, a empresa anunciou medidas de eficientização, incluindo redução de custos e reavaliação de rotas. Foram mantidas operações para destinos como Joanesburgo, Harare, Dar-es-Salaam, Lusaca, Cidade do Cabo e Lisboa. Por outro lado, vieram à tona sérios problemas financeiros: desvios estimados em 222 milhões de meticais foram identificados em operações com terminais POS não registados, usados em lojas de venda de bilhetes da LAM.
Reportagens da “Integrity Magazine” em fevereiro de 2024 confirmaram que mais de 190 milhões de meticais haviam sido desviados por meio de pagamentos eletrônicos de bilhetes, com parte do dinheiro a ser gasta em construção de casas e aquisição de bens pessoais, incluindo bebidas alcoólicas. Estes desvios ocorreram sob a gestão da FMA, sem que houvesse mecanismos internos eficazes de controlo financeiro.
O Centro de Integridade Pública (CIP) também denunciou que a FMA foi contratada sem apresentar experiência comprovada em gestão de companhias aéreas. O CIP acrescenta que a mesma empresa havia sido rejeitada pelo Governo do Zimbábue por propostas semelhantes.
O contrato com a Fly Modern Ark foi terminado em setembro de 2024, pouco depois da nomeação de Américo Muchanga como novo presidente da LAM. Embora a administração atual tenha prometido consolidar os supostos ganhos obtidos durante a intervenção, a companhia continua a enfrentar dificuldades financeiras, incluindo uma dívida de cerca de 22,5 mil milhões de meticais.
As alegações de Alves Gomes, corroboradas por dados de auditorias e relatórios da sociedade civil, levantam sérias dúvidas sobre a transparência da parceria e expõem a fragilidade dos mecanismos de fiscalização estatal em Moçambique. O caso representa um alerta para futuras parcerias estratégicas envolvendo empresas públicas em crise.
