“Não Há Gesso, Só Papelão”: Denúncia Chocante Sobre Hospitais

A situação no Sistema Nacional de Saúde (SNS) em Moçambique continua crítica, e os profissionais da área voltam a denunciar a postura do Ministério da Saúde (MISAU), que, segundo eles, nega a realidade e tenta manipular a opinião pública. A Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM) divulgou uma nota esta semana, na qual afirma que os compromissos assumidos pelo Governo desde 2023 continuam sem ser cumpridos.

Segundo a associação, o diálogo com as autoridades teve início em 3 de junho de 2023, com a intenção de responder às exigências apresentadas no caderno reivindicativo da classe. Essa negociação levou à suspensão da greve, que durou até 5 de novembro do mesmo ano. “Acreditávamos que esse período serviria para resolver os pontos acordados entre nós e o Governo”, afirma a nota. No entanto, até o momento, os profissionais alegam que nenhuma das promessas foi concretizada.

Pior do que a falta de respostas, dizem, tem sido a retaliação por parte do Governo, que teria optado por desacreditar a associação e divulgar informações falsas. “Em vez de assumir os compromissos, o Governo escolheu atacar a APSUSM com declarações infundadas, alegando que tudo foi cumprido”, destaca o comunicado.

A APSUSM recorda ainda que, em 2023, no auge da primeira greve, o Governo foi à televisão afirmar que a associação era ilegal, colocando em dúvida até a qualificação dos seus membros. A associação critica o MISAU por tentar esconder os reais problemas das unidades sanitárias, apresentando imagens manipuladas para ocultar a falta de materiais essenciais e medicamentos.

A crise persistente em 2025, segundo os profissionais, demonstra o desprezo pelas dificuldades enfrentadas nos hospitais públicos. Apesar das várias denúncias feitas nos meios de comunicação, o Governo nega o atraso nos pagamentos. “É de conhecimento público que muitos profissionais não receberam os seus salários, e mesmo assim continuam a trabalhar em condições extremamente precárias”, denuncia a associação.

A narrativa do MISAU, de que os profissionais querem apenas causar confusão, também é criticada. Para a APSUSM, essa atitude demonstra o afastamento total da realidade vivida nas unidades de saúde. “Os dirigentes do MISAU não conhecem a situação porque não frequentam os locais de trabalho onde os problemas acontecem”, reforça o documento.

O comunicado relata situações alarmantes, como a de crianças sendo atendidas com recursos improvisados por falta de materiais básicos. “O povo sabe o que é ver o braço de uma criança enrolado em papelão porque não há gesso, e a família não tem dinheiro para comprar numa farmácia privada”, exemplifica.

A APSUSM também denuncia cortes salariais arbitrários a trabalhadores que participaram da greve, mesmo sem base legal. “Se o Ministério realmente se preocupasse em ouvir os profissionais, saberia que esses cortes foram injustos e já teria reposto os salários”, acrescenta.

Apesar da repressão e da tentativa de distorcer os fatos, a associação afirma que continuará a lutar por um sistema de saúde digno, eficiente e humano. A nota, assinada por Anselmo José Rafael Muchave, presidente da APSUSM, termina com um apelo forte: “Não podemos aceitar a vergonha que se vive diariamente nas nossas unidades sanitárias.”

Veja Mais do Autor

Chapo x Mondlane: Tibana Propõe Mediação Para Evitar “Guerra Fria” Moçambicana

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *