Presidente Chapo apela ao diálogo em meio à greve nacional na saúde

O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, manifestou-se a favor do diálogo como solução para a greve dos profissionais de saúde, iniciada na quinta-feira (18), e que poderá durar até 30 dias, com possibilidade de prorrogação caso não haja avanços nas negociações com o Governo.

Durante um encontro com funcionários públicos na província de Inhambane, no sul do país, Chapo afirmou que o Executivo está empenhado em compreender os motivos da paralisação e encontrar respostas adequadas. “Estamos a dialogar com o grupo que representa os profissionais da saúde para entender as razões da persistência desta greve”, disse o Chefe de Estado.

A paralisação foi convocada pela Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM), cujo presidente, Anselmo Muchave, explicou que os trabalhadores exigem soluções concretas, sob pena de estenderem a greve. Entre as medidas adotadas, estão a suspensão de turnos noturnos, fins de semana e feriados.

Reivindicações acumuladas há anos

As exigências dos profissionais de saúde não são novas. A APSUSM tem vindo a reclamar, há cerca de três anos, melhorias nas condições dos hospitais, incluindo o fornecimento regular de medicamentos — que muitas vezes são comprados pelos próprios pacientes — e a aquisição de camas hospitalares. Também apontam a falta de alimentação adequada, ambulâncias sem material de emergência, e ausência de equipamentos de proteção individual duráveis, frequentemente adquiridos pelos funcionários com recursos próprios.

A associação exige ainda o pagamento de horas extraordinárias em atraso e uma melhor integração na Tabela Salarial Única (TSU), que visa uniformizar os salários na função pública.

Situação financeira e apelos do Governo

Daniel Chapo lembrou que o país opera com o orçamento do ano anterior, uma vez que as eleições gerais ocorreram em outubro, e garantiu que o Estado tem feito esforço para honrar compromissos, como o pagamento do 13.º salário e a regularização de dívidas relativas a horas extras, especialmente nas áreas da saúde e da educação.

“Não são todos os funcionários públicos que estão em greve, é um grupo específico. Queremos perceber os motivos da insistência quando sabemos que muitas dívidas estão a ser liquidadas”, disse o Presidente.

Segundo as normas em vigor, os profissionais passarão a cumprir o horário legal, das 7h às 15h30, com uma pausa de 30 minutos, limitando assim a prestação de serviços em turnos cruciais.

Ministro da Saúde alerta para consequências

O ministro da Saúde, Ussene Isse, expressou preocupação com a paralisação, sublinhando que uma greve na saúde pode ser desastrosa. “Imagine-se 10 ou 15 minutos sem assistência a um paciente crítico numa sala de reanimação. Isso pode significar morte. Já tivemos casos semelhantes”, alertou, reforçando o apelo ao diálogo.

O sistema de saúde moçambicano tem enfrentado greves constantes nos últimos dois anos, inicialmente lideradas pela Associação Médica de Moçambique (AMM) e, mais recentemente, pela APSUSM, que representa cerca de 65 mil profissionais do setor.

De acordo com dados oficiais, Moçambique conta com 1.778 unidades de saúde, entre as quais se destacam hospitais centrais, rurais, distritais e especializados, refletindo a dimensão e complexidade do sistema que agora se encontra sob pressão.

Veja Mais do Autor

Moçambique e FMI avançam para criação de um novo programa de apoio

A Garota na Caixa: O Sequestro que Chocou o Mundo

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *