A greve nacional convocada pela Associação dos Profissionais de Saúde de Moçambique (APSUSM) tem início marcado para hoje, mas o movimento está longe de ser consensual entre os associados. Enquanto alguns profissionais afirmam que vão aderir à paralisação, outros mostram-se reticentes, alegando falta de transparência nas negociações entre a direcção da associação e o Governo.
Fontes ligadas à APSUSM, que preferiram o anonimato, denunciam que o presidente da associação, Anselmo Muchave, não tem partilhado com os membros os detalhes dos diálogos mantidos com o Executivo. “Sempre que há negociações, o presidente parece mais preocupado com interesses pessoais do que com os problemas da classe”, disse uma das fontes, visivelmente insatisfeita com a condução do processo.
A contestação interna à liderança da associação não é recente. Durante greves anteriores, alguns profissionais de saúde relataram ter sido transferidos para zonas remotas, o que gerou descontentamento e acusação de falta de apoio por parte de Muchave.
A obrigatoriedade de contribuição de 1% dos salários dos associados também é um ponto de fricção. Muitos profissionais acusam o presidente de priorizar a cobrança dessa quota em detrimento das verdadeiras preocupações da classe. “Ele está revoltado porque o Governo suspendeu os descontos. A greve que está a convocar parece mais uma reação pessoal do que uma iniciativa coletiva legítima”, disseram.
Diante disso, há um grupo que defende a realização de novas eleições na APSUSM, para que os membros possam eleger uma nova liderança que represente melhor os seus interesses.
Apesar da divisão, Anselmo Muchave garante que a paralisação será mantida. “A greve foi decretada e vai acontecer. Nem todas as pessoas participam de movimentos colectivos, e isso é normal”, afirmou.
Por outro lado, o Ministério da Saúde, por meio do director nacional adjunto, Manuel Macebe, revelou que ainda não houve um diálogo com a associação para evitar a greve. “Estamos a trabalhar para responder às preocupações da classe. A questão do subsídio de risco foi resolvida e já foi adquirido o novo fardamento para os 42 mil profissionais de saúde”, explicou à STV na última terça-feira (15).
A tensão entre a liderança da APSUSM e parte dos seus associados levanta dúvidas sobre a adesão à greve e reforça o apelo por maior diálogo interno na classe.
