Mudam os Gestores, Mantém-se a Crise: 45 Anos da LAM

De 2010 a 2025, a companhia aérea nacional enfrentou uma constante rotação na sua liderança sem, no entanto, conseguir sair da crise. A mais recente tentativa de reestruturação coloca o destino da empresa nas mãos de um gestor estrangeiro.

Nos últimos 15 anos, as Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) tiveram nada menos que 15 responsáveis máximos à frente da gestão da empresa, sob diferentes denominações como Presidentes do Conselho de Administração (PCA), administradores-delegados e directores-gerais. Contudo, a mudança constante de líderes não trouxe qualquer melhoria significativa para a companhia, que continua mergulhada numa crise profunda. A mais recente jogada do Governo moçambicano envolveu a destituição de Marcelino Gildo e a nomeação de uma comissão de gestão liderada por Dane Kondic, ex-executivo da Air Serbia. A dúvida que persiste é se esta nova abordagem – com apoio da Knighthood Global – será capaz de curar os males enraizados na LAM.

A instabilidade começou em 2011

Após a saída de José Viegas, que liderou a LAM durante 12 anos (1999-2011), Marlene Manave assumiu como administradora-delegada. Embora o mandato de Viegas tenha coincidido com os tempos mais prósperos da empresa, o seu legado foi comprometido pela expulsão da LAM do espaço aéreo europeu, em 2011, devido a falhas graves de segurança. Pouco depois, Viegas foi destituído, embora as autoridades tenham tentado separar a sua saída do escândalo europeu.

A gestão de Manave também não conseguiu reverter a situação. Em 2013, a queda do voo TM470, na Namíbia, resultou na morte de 33 pessoas, marcando tragicamente a sua liderança. Acusações de corrupção, uso indevido de aeronaves e nepotismo colocaram-na na mira do Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC). Em 2014, Marlene e os dois PCAs não executivos com quem colaborava, Teodoro Waty e Carlos Jeque, foram afastados.

Zucula: do Governo à prisão

Durante este período, dois ministros supervisionavam o setor: Paulo Zucula e Gabriel Muthisse. Zucula foi condenado em 2021 a 10 anos de prisão por corrupção na compra de aviões à Embraer, enquanto Muthisse saiu ileso. Já Viegas, também envolvido no processo, escapou à punição por prescrição.

Uma sequência de fracassos

Com a saída de Manave, Iacumba Aiuba assumiu a liderança da LAM em 2014, com Silvestre Sachene como PCA não executivo. Apesar das promessas de transformação, a dupla foi substituída dois anos depois por António Pinto (administrador-delegado) e António Abreu (PCA). Pinto acabou condenado a 14 anos de prisão por peculato, devido a contratos fraudulentos com a empresa Executive Moçambique, que desviaram cerca de 50 milhões de meticais.

Reformulação de cargos, mas os problemas persistem

Face aos sucessivos insucessos, o Governo reformulou o modelo de gestão, extinguindo o cargo de administrador-delegado e introduzindo o de director-geral. João Carlos Pó Jorge foi nomeado para o cargo, mas sua administração também foi marcada por má gestão. A empresa gastava milhões em aviões avariados parados no Quénia, enquanto aumentavam as avarias e os incidentes com as aeronaves.

A gestão estrangeira da Fly Modern Ark

Em 2022, o então ministro Mateus Magala entregou a gestão da LAM à empresa sul-africana Fly Modern Ark, dirigida por Theunis Christian De Klerk Crous. Apesar das promessas, a gestão foi marcada por decisões ruinosas, como o aluguer de um avião cargueiro que nunca voou e o recrutamento de oito consultores estrangeiros com salários elevados e resultados questionáveis. A empresa contraiu dívidas avultadas, como os mais de 1,3 milhões de euros devidos à EuroAtlantic. A imprensa revelou ainda que a LAM pagou férias de luxo a Magala na Cidade do Cabo, aumentando as suspeitas de favorecimento e má-fé.

Breves passagens e nova tentativa com estrangeiros

Após a saída da Fly Modern Ark em julho de 2024, o Governo optou por voltar ao modelo anterior com PCAs executivos. Américo Muchanga e, depois, Marcelino Gildo, foram os nomes escolhidos, mas ambos tiveram passagens breves, sendo Gildo o que menos tempo permaneceu no cargo: apenas três meses.

A gestão da LAM passou então para o australiano Dane Kondic, num esforço renovado de resgatar a empresa do colapso. Com apoio da consultora Knighthood Global, pretende-se melhorar a estrutura financeira, rever a frota e aplicar novos sistemas tecnológicos. No entanto, pairam dúvidas se essas medidas serão suficientes para salvar uma companhia afundada por anos de má gestão, escândalos e corrupção.

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