Moçambique aparece, pela primeira vez, entre os três países com as crises de deslocados mais esquecidas do mundo, segundo o relatório anual do Conselho Norueguês para Refugiados (NRC). O país ocupa o terceiro lugar na lista divulgada nesta terça-feira (03), destacando-se entre as emergências humanitárias mais negligenciadas do planeta.
O relatório aponta que, em 2024, Moçambique enfrentou uma combinação grave de violência armada, instabilidade política e eventos climáticos extremos. Esta junção de fatores agravou a crise humanitária, sobretudo na província de Cabo Delgado, onde os ataques continuam a forçar o êxodo de milhares de pessoas.
Além da violência, o país sofreu com o impacto do ciclone Chido, que atingiu infraestruturas já debilitadas, aprofundando ainda mais a vulnerabilidade da população. O NRC estima que, até o fim de 2024, cerca de 600 mil pessoas foram forçadas a abandonar suas casas devido a conflitos e desastres naturais. Entre abril e setembro, 2,8 milhões de moçambicanos enfrentaram níveis severos de insegurança alimentar.
Falta de apoio internacional
Apesar do agravamento da situação, o apoio internacional continua abaixo do necessário. O Plano de Resposta Humanitária de 2024 conseguiu apenas 41% do financiamento requerido, o mais baixo já registado. A assistência alimentar foi ainda mais afetada, alcançando apenas 13% da demanda em Cabo Delgado.
Para 2025, os primeiros dados revelam um cenário semelhante, com o NRC alertando que o financiamento até agora obtido é “extremamente limitado”, o que poderá agravar ainda mais a crise.
O relatório também critica a escassa cobertura mediática sobre Moçambique e a falta de atenção diplomática, que contribuem para o esquecimento da crise, mesmo com o seu agravamento.
Situação global crítica
De acordo com o NRC, o número global de deslocados duplicou na última década, mas os recursos disponíveis não acompanharam esse aumento. O documento destaca que apenas metade das necessidades humanitárias globais estão a ser financiadas, devido a cortes orçamentais e prioridades domésticas de países doadores.
A crise moçambicana é citada como um exemplo emblemático de como múltiplas ameaças – como guerras, instabilidade política e catástrofes naturais – podem ser ignoradas pela comunidade internacional. Além de Moçambique, figuram na lista países como Camarões (1.º), Etiópia (2.º), Burkina Faso (4.º), Mali, Uganda, Irão, RDC, Honduras e Somália.
O NRC reforça que, para mudar este cenário, é preciso um esforço mais coordenado e focado naqueles que continuam esquecidos.