Maputo, 25 de agosto de 2025 – O presidente interino da Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo (ANAMOLA), Venâncio Mondlane, precisará “descentralizar o seu protagonismo” decorrente do elevado “capital político” que possui, caso queira preservar a legitimidade da luta democrática que tem conduzido, avalia o académico Ricardo Raboco, em entrevista à “Carta”.
“Venâncio Mondlane possui, por mérito próprio, carisma e um capital político significativo, o que faz dele o ponto central das organizações em que atua”, observa Raboco, docente universitário e analista. No entanto, para evitar conflitos internos e tendências autoritárias no ANAMOLA, será necessário criar espaço para que outras lideranças fortes surjam e contribuam para fortalecer a nova organização, acrescenta.
“O panorama político em Moçambique tem sido marcado por pouca democracia interna e culto de personalidade em torno do líder, fruto da origem da legitimidade desses dirigentes. Mondlane, porém, tem condições de contornar isso, pois não emergiu de um movimento armado, mas de mobilizações de base e das ruas”, destaca.
Mobilização popular fortalece ANAMOLA
Ricardo Raboco sublinha que o apoio popular à captação de fundos para as atividades de Mondlane demonstra a influência que ele possui junto às massas.
“Os movimentos observados durante as eleições autárquicas de 2023, caracterizados por maior participação e contestação, mostram que é possível desafiar o ‘status quo’ e isso traz energia ao futuro da ANAMOLA”, afirma o académico.
A insatisfação popular em relação à Frelimo, Renamo e MDM – partidos tradicionais que dominavam a política nacional antes de 2023 – e a ascensão do PODEMOS como principal força de oposição devido à aliança com Mondlane, indicam que o ANAMOLA tem potencial para se tornar um ator decisivo na política moçambicana, prossegue Raboco.
Apesar de o novo partido não ter acesso aos recursos do Estado por estar fora do parlamento e do governo, sua capacidade de mobilização e arrecadação de recursos tem sido notável. “Mesmo sem os meios estatais, conseguiu alcançar significativa votação presidencial e tornar o PODEMOS representativo no parlamento, quando antes era quase irrelevante”, observa.
Além disso, aproveitando a revolta social, especialmente da juventude, e o desgaste dos partidos tradicionais, Mondlane conseguiu organizar manifestações pós-eleitorais inéditas na história de Moçambique, conclui Raboco.
Venâncio Mondlane foi nomeado presidente interino da ANAMOLA na última terça-feira (19), durante a sessão extraordinária da Comissão Executiva do partido.
Fonte: A Carta de Moçambique