Balama, Cabo Delgado – Após oito meses de paralisação devido à resistência das comunidades locais, a TWIGG Exploration & Mining Limitada – subsidiária da australiana Syrah Resources Limited – reiniciou no dia 5 de maio suas operações de extração de grafite em Balama. A suspensão das atividades deveu-se a exigências de compensações justas por parte dos residentes afetados pela perda dos seus Direitos de Uso e Aproveitamento da Terra (DUAT).
Segundo nota divulgada pela Syrah Resources, o retorno das operações ocorreu após um “acordo formal” com representantes governamentais e parte dos agricultores. Contudo, o comunicado também relatou que um “pequeno grupo” persistia em impedir o acesso à mina “sem queixas legítimas contra a empresa”. As autoridades moçambicanas, então, intervieram para retirar os restantes manifestantes, restaurando o funcionamento do local.
Informações de moradores obtidas pelo MOZTIMES revelam que a entrada foi liberada à força. No dia 2 de maio, cerca de 50 agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) foram enviados para desmobilizar o grupo que, desde setembro de 2024, mantinha presença ativa na zona de Nkwide, próxima à concessão mineira. De acordo com as fontes, a polícia usou gás lacrimogéneo e disparos para dispersar os manifestantes.
A operação resultou na detenção de vários camponeses e membros da milícia local Naparama, incluindo o líder tradicional Mualia Issa e Tobias António, ex-funcionário da TWIGG e representante dos agricultores.
Desde o início das atividades em 2014, as comunidades têm reivindicado compensações mais equitativas. Inicialmente, os valores pagos rondavam os 63 mil meticais por hectare, mas em 2022 chegaram até 240 mil meticais para outras famílias, criando desigualdade e contestação. Mais recentemente, a mineradora propôs um valor de 120 mil meticais por hectare, condicionado a quatro meses consecutivos de produção, proposta que dividiu opiniões entre os manifestantes.
A recente ação policial levanta preocupações sobre o impacto da força nas relações entre a empresa e as comunidades locais, já fragilizadas por denúncias anteriores de abusos laborais, despedimentos arbitrários e danos ambientais.
A mina de grafite de Balama é uma das maiores reservas do mundo e peça-chave na cadeia de produção de baterias elétricas, abastecendo empresas como a Tesla. A paralisação anterior, declarada como “força maior” pela empresa em dezembro de 2024, comprometeu seriamente suas operações e compromissos financeiros.
