Com Chapo no poder, terrorismo volta a crescer em Cabo Delgado

Novos episódios de violência estão a alarmar as comunidades na província de Cabo Delgado, em Moçambique. Desta vez, aldeias localizadas no distrito de Ancuabe foram alvo de ataques terroristas, resultando em pelo menos três mortes e forçando cerca de 500 famílias a abandonarem as suas casas, elevando o número de deslocados para mais de 1.500.

Estes incidentes ocorrem num contexto delicado, logo após o anúncio do refinanciamento do megaprojeto de gás natural liderado pela Total na região. Para Abdul Tavares, coordenador provincial do CDD – Centro para Democracia e Direitos Humanos –, os ataques refletem um aumento da violência desde a posse do novo Presidente da República, Daniel Chapo, que havia afirmado que os insurgentes estavam em fuga.

“Os ataques não começaram necessariamente após o anúncio do financiamento da Total, mas sim após a declaração do novo Presidente sobre a retirada dos terroristas. Ataques esporádicos já vinham acontecendo, especialmente ao longo da estrada nacional A380, onde camiões que transportam alimentos para o norte de Cabo Delgado eram frequentemente atacados. Com o tempo, esses ataques intensificaram-se e expandiram-se também para o centro e sul da província, como os distritos de Balama e, mais recentemente, Ancuabe”, explicou Abdul Tavares em entrevista.

Segundo ele, a expansão geográfica dos ataques pode estar relacionada à resposta militar intensa por parte das Forças Armadas de Moçambique, com apoio do contingente ruandês, ou ainda pela busca dos insurgentes por novas fontes de financiamento, atacando agora garimpeiros ilegais que operam em zonas de exploração de ouro.

“A pressão militar pode ter forçado os insurgentes a mudar de área. Por outro lado, também é possível que tenham encontrado novas rotas e alvos, como os locais onde se praticam garimpos ilegais. Sabemos que eles sobrevivem através da economia paralela, incluindo mineração ilegal, comércio de madeira e outras atividades ilícitas”, acrescentou Tavares.

Os casos de recrutamento forçado continuam a ser reportados, agravando a situação humanitária. De acordo com o Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), pelo menos 349 pessoas foram mortas em ataques extremistas no norte de Moçambique ao longo de 2024, representando um aumento de 36% em relação ao ano anterior.

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