O escritor e académico angolano Domingos da Cruz viu o seu mais recente livro, Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar Nova Ditadura, ser confiscado pelas autoridades no aeroporto de Luanda, antes mesmo de chegar às livrarias. De acordo com o autor, os serviços de segurança do Estado apreenderam os exemplares e enviaram-nos ao Palácio Presidencial.

A obra, que surge como uma atualização do livro que esteve na origem da detenção do grupo conhecido como 15+2, em 2015, volta a confrontar o regime político vigente em Angola. Para Domingos da Cruz, a reação do governo não foi inesperada. “Trata-se de mais uma demonstração da natureza do regime. Era previsível”, afirmou.

Domingos da Cruz, atualmente a residir no Canadá, sustenta que denúncias públicas não são eficazes em regimes autoritários, defendendo a elaboração de um plano estratégico para pôr fim à ditadura. “Não se trata de me colocar como vítima, mas de relatar os factos”, declarou.

Em resposta à censura, o autor optou por disponibilizar o livro gratuitamente na internet, permitindo o acesso livre à sua obra como forma de resistência ao controlo estatal sobre a informação. “O que estou a fazer é aproveitar a oportunidade para informar”, sublinhou.

O caso reacende o debate sobre a liberdade de expressão em Angola, com Domingos da Cruz a comparar a situação do país a regimes fechados como o de Cuba ou Coreia do Norte. Segundo ele, esperar liberdade de imprensa nestes contextos seria uma ilusão. “Durante mais de trinta anos, as denúncias não mudaram nada. O caminho é outro: é a organização”, concluiu.