Moçambique assinala esta terça-feira, 25 de Junho, meio século de independência nacional. No entanto, para Salomão Muchanga, líder do partido Nova Democracia, a conquista da liberdade política não trouxe o fim da opressão, mas sim uma transformação na sua forma e protagonistas.
Segundo Muchanga, os 50 anos de independência devem ser analisados sob duas perspectivas opostas, que ele classifica como “a cara e a coroa” da mesma moeda.
Por um lado, o dirigente destaca que os moçambicanos deixaram para trás o domínio colonial, pondo fim à exploração directa das riquezas pelo antigo colonizador, à opressão racial, ao sistema de trabalhos forçados (xibalo) e às punições físicas típicas do colonialismo português. Contudo, Muchanga defende que, embora a face da opressão tenha mudado, as práticas de exploração e repressão continuam presentes, agora protagonizadas por elites nacionais.
“Na prática, a repressão só trocou de cor. As injustiças que outrora vinham de Lisboa foram adaptadas ao contexto interno, transformando-se num regime sustentado por corrupção, crimes económicos e uma elite política mafiosa”, declarou o líder da Nova Democracia.
Muchanga também acusa o actual regime de perpetuar práticas de violência e repressão, referindo-se a assassinatos políticos, como o do antigo presidente Samora Machel, além de ataques a académicos, activistas e cidadãos críticos ao sistema. Destacou ainda a persistência de conflitos armados e actos de terrorismo, com particular incidência na província de Cabo Delgado.
O dirigente aponta os últimos cinco anos como marcados pelo agravamento da corrupção e pelo desvio de recursos do Estado em benefício de grupos ligados ao poder. Segundo Muchanga, os recursos minerais do país, como gás natural, carvão, ouro e areias pesadas, são explorados por multinacionais que, em contrapartida, pagam quotas às elites políticas nacionais.
“As chamadas dívidas ilegais, o saque institucionalizado, o contrabando de madeira para exportação, o abandono da agricultura que mantém o povo na fome e na desnutrição, o desemprego em massa, o nepotismo e o domínio económico de grupos privados ligados ao regime são sinais claros de que a independência, para muitos, ainda é uma promessa adiada”, afirmou.
Muchanga reforçou o compromisso da Nova Democracia com um projecto de “refundação do Estado”, que segundo ele deve garantir liberdade política, participação cívica, emancipação da juventude e das mulheres, justiça social e uma distribuição mais justa das riquezas.
Além disso, criticou duramente o que considera ser a incapacidade das autoridades em combater crimes graves como raptos, tráfico de drogas, armas e órgãos humanos, assassinatos de jornalistas e investigadores, fraudes eleitorais, violência contra membros da oposição e a degradação dos serviços públicos de saúde, educação e habitação.
Para Muchanga, estes problemas fragilizam tanto o Estado como as instituições privadas, impedindo o desenvolvimento e comprometendo os ideais de soberania, unidade nacional e paz que deviam ser consolidados após 50 anos de independência.
