O Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD) apelou às autoridades judiciais moçambicanas para que iniciem uma investigação contra o ex-ministro da Agricultura, Celso Correia, acusando-o de ter liderado uma gestão danosa e possivelmente criminosa no âmbito do projecto agrícola SUSTENTA.
Lançado em 2016, durante o primeiro mandato do ex-presidente Filipe Nyusi, o SUSTENTA foi apresentado como uma iniciativa estratégica para integrar a agricultura familiar nas cadeias de valor. Inicialmente aplicado nas províncias de Nampula e Zambézia, o programa expandiu-se posteriormente para todo o país, com grande apoio financeiro de doadores internacionais, incluindo cerca de 200 milhões de dólares do Banco Mundial.
Contudo, recentes declarações do actual ministro da Agricultura, Roberto Albino, causaram espanto ao afirmar desconhecer completamente o programa. “Não sei nada sobre o SUSTENTA. Estou focado apenas no projecto agrícola do actual mandato do governo”, disse ele à imprensa.
Para o CDD, esta afirmação reforça a ideia de que o SUSTENTA foi mais um instrumento político do que um verdadeiro projecto de desenvolvimento agrícola. Em comunicado, a organização alega que a sua implementação serviu sobretudo para reforçar o poder político de Celso Correia dentro do governo e do partido Frelimo, ao invés de responder às reais necessidades dos agricultores.
O CDD denuncia ainda que o projecto deixou para trás salários em atraso e uma série de dívidas por saldar. Segundo a organização, há trabalhadores que não recebem vencimentos desde agosto de 2024, e cerca de 5 mil técnicos e agricultores chegaram a reportar esta situação. “Os trabalhadores sentem-se traídos por Celso Correia e Filipe Nyusi”, reforça o comunicado.
Diante da extinção do projecto sem que as metas iniciais tenham sido cumpridas, o CDD pede uma acção concreta por parte do Ministério Público, visando apurar responsabilidades pelos prejuízos causados ao erário público.
“É urgente que os mentores do SUSTENTA respondam perante a justiça, dado o legado de má gestão, dívidas e promessas não cumpridas que deixaram para o país”, conclui o CDD.